Às vezes sinto a maior saudade. Do nada ela bate. E bate, viu. Parece um daqueles ventos quentes de verão que abrem-alas pra uma apocalíptica tempestade. Essa é aquela danada de saudade que chega e já se espalha - ela dói, é pesada, e me faz pensar se é isso mesmo que eu quero, se essa é a escolha da minha vida. Ficar longe, muito longe, longe da minha cultura, da minha língua, do meu sorriso. O meio-de-campo de emoções se embola e dá aquela vontade louca de falar "que se foda" e pegar o primeiro avião. Encontrar a minha terra, o meu céu... Começo a viajar sozinha e a imaginar, aos poucos, a ansiedade da espera para se chegar ao meu, meu tão sonhado Rio, a vista das montanhas lá de cima da janelinha do avião, suas praias, seu mar. A recepção no aeroporto, o caminho pra casa, os encontros.
Ah, se eu fosse maluca...
É, mas calma que eu não sou não, a vontade aparece mas eu sempre acabo despertando desse estado entorpecido (que dura exatos 7 segundos - eu já contei). O que eu tenho é que aprender a domesticar a minha mente que ainda não sabe se comportar e às vezes transvia para esses pensamentos gostosos e insanos.
Olho em volta e vejo que isso - que de uma forma, continua sendo um sonho; é real. Penso no que tem aqui, no presente, onde estou. E no aproveitar, curtir, me entregar. Aqui mesmo, em volta, no mundo palpável, físico. O que tem de bom, por que vim, por que decidi isso, e assim começo a pensar naquele meu Rio de outra forma e lembro dos truques da nossa imaginação, que fazem a gente idealizar uma história, um lugar.
Às vezes construo o seguinte diálogo criando os personagens na minha cabeça representando o Brasil e a Austrália:
- Hummm, esse seu Rio aí, que que tem nele? Tem coisa boa?
- Tem sim senhor.
- Tem coisa ruim?
- Também tem sim senhor, diria que até bastante.
- Tem coisa muito boa?
- Putz, tem coisa muuuito boa!!! Muitas coisas muito boas, aliás.
Já com o outro personagem é assim:
- E aqui, nesse país longe, diferente? Tem coisa boa?
- Tem sim senhor.
- Tem coisa ruim?
- Hummm. Tee-... hummm, olha senhor, coisa ruim, assim ruim ruim, nao sei... não não, tem coisa ruim sim, mas não é ruuuim não sabe? É ruim mas não é ruim. Tendeu?
- Hum, mais ou menos. Não é tão ruim assim, você quer dizer?
- É. Acho que é por aí.
- Tá, ok, ok, confuso isso hein. Vamos mudar pra coisa boa. Tem coisa muito boa?
- Tem coisa boa sim senhor.
- Não falei boa, falei muito boa. Tem coisa muito boa?
- Hum, tem.
- Só isso?
- É, ué, já falei que tem.
- E a empolgação, cadê? Voce tá falando de coisa muito boa lembra? É isso?
- Hum, é. Tem. Tem sim.
Às vezes é assim que me sinto. Um amigo uma vez me falou uma frase que eu não vou esquecer nunca: "Verinha, enquanto a Austrália é novela das 6, o Brasil é novela das 8". Pros 3% de brasileiros que não veem novela, eu explico: as novelas das 6 são aquelas com cenários lindos, tudo limpo, perfeito. Todo mundo arrumado, bonito, com pele lisa sabe? Geralmente é novela de época. As ações são poucas, geralmente uma história romântica, fofocas inocentes dentro de casa, sorrisos, gente simpática e claro, um galã estilo Disney e o casal que se casa no final e assim são felizes para sempre.
A novela das 8 não. A novela das 8 tem ação, tem o mocinho cheio de falhas geralmente mulherengo e safado e que tá pegando a secretária, mulheres loucas urbanas e obsessivas que destratam seus funcionários que trabalham naquela mega-corporação da família, viagens para a Europa no início da novela, alguém que é assassinado no final, o mendigo-gente-boa que toca um sambinha na rua, a história da empregada pobre, a história da patroa rica - sempre, com muita, mas muita ação essa novela das 8.
Engraçado que pra mim essa comparação se encaixou perfeitamente. Assim como o Tom Jobim que falou aquela famosa frase: “Morar no Brasil é uma merda mas é bom, morar nos EUA é bom mas é uma merda.”
Outra seria aquela do motorista de bugue nas dunas de Natal: "E aí dona, quer com emoção ou sem emoção?". O Brasil é com emoção. Ah, devo falar que eh com tanta emoção que parece até que você vai cair do bugue no meio caminho - em compensação, você se diverte que é uma beleza.
Por que eu tô falando isso?
Devo confessar que a minha primeira idéia era sentar na cadeira para escrever um post sobre o que é ser "imigrante" mas não tem jeito, antes de entrar na tática eu tinha que colocar o dedo na principal ferida – por que meu amigo, se você não está preparado emocionalmente pra isso, é melhor pensar com mais calma afinal esse é o primeiro ponto: saudade, indecisão, pensar lá e aqui. Querer voltar, querer ficar.
Claro que isso não acontece o tempo todo, a gente acaba se integrando à rotina australiana e tem dias (às vezes, semanas) que nem se pensa no Brasil, família e amigos. Mas por mais que você esteja integrado, você vai sempre pensar no seu país – pensar só não, mas idealizá-lo usandos lentes cor-de-rosa e lembrando, na maioria, das coisas boas. Por isso é bom parar para lembrar das coisas ruins também, se não você pira. E tem coisa ruim sim, como falei antes, tem muita. Infelizmente.
Bem, aqui eu estou falando de mim: conheço gente que pensa ao contrário, quando lembra do Brasil, lembra de assaltos, pobreza, insegurança. Só lembra das coisas ruins. De repente era melhor pensar assim, mais fácil. Mas não consigo. Essa não seria eu, não seria a Verinha que, apesar de tudo, ainda ama o Brasil. Quanto a essa indecisão a que me refiro, conheço de tudo: brasileiros que nem pensam em voltar, brasileiros que nem pensam em ficar... Mas a maioria quer ficar na Austrália por um tempo e depois voltar para o Brasil: seja em dois anos, cinco, dez ou quando se aposentar. Se isso vai acontecer mesmo, ai eu jah nao sei. Mas não tem jeito, você não esquece nunca.
Quando você mora fora tudo é novo. Você não tem uma história naquelas ruas, o verde das plantas tem um tom diferente, mais que um idioma, o jeito de se expressar é diferente, de comer, de celebrar, de negociar, de comprar. Quando nós brasileiros lembramos das aulas de História da quinta série, pensamos no Pedro Álvares de Cabral e no Tratado de Tordesilhas. Eles não. Os símbolos, os sinais mudam diferentes. O jeito de fazer amigos, o modo de conseguir trabalho... fora a distância da familia e dos amigos de longa data que nunca, nunca serão substituídos.
Mesmo com tudo isso, fico admirada como as qualidades fundamentais de nós, humanos, seres complexos e mutáveis. Por que, apesar disso tudo no final "a gente se vira". Se vira sim, aprende, quebra a cara, se dá bem, enfim, aprendemos com os nossos erros e acertos. A gente insiste por que, mais do que emoções limitadas à nossa cabeça, o que todo mundo quer é viver bem.
Vejo, no caso de vários brasileiros, que mesmo com tudo isso a vida aqui na Austrália ainda é melhor. No final das contas, o que compõe, digamos, 70% da nossa vida é aquela rotininha lá do dia-a-dia: trabalho, casa, esperar o final de semana, final de semana, casa, trabalho etc. E por mais que você tenha um certo “conforto” (metaforicamente falando) no país de origem, às vezes você não tem qualidade de vida ou perspectiva de ter uma vida melhor (agora conforto esse economicamente falando).
E essa é uma das grandes atrações da Austrália. Apesar de parecer ter falado que aqui não tem coisa muito boa, devo voltar atrás e falar que tem, sim, principalmente as possibilidades que se abrem em vários quesitos. Poder viajar mais, absorver uma nova cultura, começar a ver o mundo – e principalmente, o Brasil – com outros olhos. Aprender, se aventurar, odiar, sofrer, amar. Sair da zona de conforto.
Eu sei que tem gente que não troca a vidinha de sempre no Brasil por nada – isso aí, cada um tem a sua escolha. As pessoas são diferentes, precisam de experiências diferentes. Pra mim a Austrália foi e continua sendo uma experiência única, inesquecível. Certamente saí da minha zona de conforto ao tentar a vida em outro país. Já me perguntei diversas vezes se fiz a coisa certa. Fiz sim, só eu sei que se eu não tivesse vindo morar fora seria uma eterna frustrada.
Sair da zona de conforto.
E entrar nela também.
O triste do nosso país é que ele não te dá muito liberdade: liberdade não é poder beber cerveja na praia, pra mim liberdade muito maior é poder se arriscar na vida e saber que você não vai estar na merda quando voltar. Que vai ter um emprego, que vai ter dinheiro, que não, nunca você vai ficar na sarjeta. Aqui não rola isso por que qualquer emprego que você tenha você ganha dinheiro. Grana boa, pra viver uma vida acima do razoável.
Alguns brasileiros que conheço são loucos pra voltar a morar no Brasil mas não voltam. A primeira pergunta que passa pela cabeça deles é: “voltar pra fazer o que?”. Ficam com medo de passar perrengue no Brasil, apavorados pela incerteza, pela dificuldade em encontrar um emprego que pague bem, que faça eles terem uma vida decente, fora a inseguranca que pesa muito. E assim o verde brasileiro se torna menos verde, as praias, menos bonitas, o povo mais triste. E aquele sonho que eu tive lá no começo muda.
De uma certa forma, eu não posso reclamar muito pois nunca tive dificuldade de encontrar emprego no Brasil. Mas não tenho pressa de voltar. Sinto falta, sinto saudade, mas ainda tenho um bom tempo aqui na Austrália. Não quero só viver, quero navegar, explorar, ver mais, conhecer mais. Tenho certeza que o meu Rio estará sempre lá, de braços abertos e sorrindo pra mim.
sábado, 27 de fevereiro de 2010
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
The Lucky Country
Muitas pessoas chamam a Austrália de ‘The Lucky Country” devido ao clássico livro de mesmo nome escrito em 1964 pelo crítico social australiano Donald Horne (ou melhor, essa é a origem mas muita gente chama assim pois já ouviu isso de algum lugar, achou legal e começou a usar o mesmo termo). Até a Kylie Minogue já cantou uma música em homenagem “lucky, lucky, lucky”. Eu achava que o nome vinha da sorte do país por ter um clima tão bom, economia, recursos naturais etc. Milhares de pessoas, a maioria aliás, ainda acha que é por isso. Até que ontem fui a uma livraria e comprei o livro - há!, que surpresa, não era nada disso, pelo contrário: o termo “lucky country”, veja só, foi uma ironia do autor que foi mal-interpretada nos últimos 45 anos (realmente, toda unanimidade é burra).
Naquela época a cultura de colônia ainda era muito forte e a inovação, tecnologia e pesquisa não era o foco das pessoas e do governo, e sim, eram os recursos naturais. A Austrália sempre foi um país conhecido por suas minas, muito ouro e etc (lembra desse post?), fazendas e criação de animais, o que pode ter atrasado o desenvolvimento naqueles outros quesitos (ou seja, o lado lucky na verdade atrapalhou). No livro Horne fala que os países que se beneficiaram das imensas mudanças tecnológicas, econômicas, sociais e políticas daquela época (o vulcânico anos 60 lembre-se) eram os países espertos. A Austrália não era um país esperto. A Austrália só era um país sortudo. Sacou a ironia? (momento parênteses: “aí Pedro, lembra que você sempre me falou que eu tava indo morar no quintal do mundo?”).
O título vem dessa que é a primeira frase do livro: Australia is a lucky country, run by second-rate people who share its luck. (ou seja, por pessoas não muito espertas que tiveram a sorte de nascer aqui)
Aqui está a explicação nas palavras do autor:
"I had in mind in particular the lack of innovation in Australian manufacturing and some other forms of Australian business, banking for example. In these, as a colonial carry over, Australia showed less enterprise than almost any other prosperous industrial society."
"The answer lies in the essential part of ‘my lucky country’ thesis – that our tradition is of a colonial-minded and derivative business culture, especially in manufacturing and banking, and that this had left us with little understanding that ideas are of the factors of production. In our colonial days innovations in farming and mining were recognised as essential: farming and mining were our jobs as a colony."
Seguem outros trechos:
"A person who doesn’t like ordinary people to think they are as good as he is, or to enjoy some of the things he enjoyed himself, will not like Australia."
Cantei um pouco dessa pedra nesse post. Essa é uma sociedade tão igualitária, mas tão, que os mais ricos se vestem como os mais pobres para não aparentarem que tem dinheiro. Sim, é verdade! Inveja é um pecado capital e que as pessoas morrem de medo (do olho gordo). No Brasil é o extremo contrário, por isso a imensa disparidade.
"Not only very rich or very poor people rare; the average income is not just a simple average, it is also close to the typical income."
"Ordinary Australia is not a society of striving and emulation. Ordinary people are not concerned with the ways or the rich or the highly educated. What they want they usually can get – a house, a car, oysters, suntann, can of aspargus, lobsters, seaside holidays, golf, tennis, surfing, fishing, gardening."
"To some they seem lazy. They are not really lazy but they don’t always take their jobs seriously. They work hard at their leisure."
É por isso que eu amo esse país.
"Australians are too easy-going to become fanatics and they do not crave great men."
"Australia is not a country of great political dialogue or intense searching after problems (or recognition of problems that exist). For many Australia, playing or watching sport gives life one of its principal meanings."
Apesar do livro ter sido escrito há quase 50 anos atrás ele ainda é muito atual. Afinal, pra saber sobre o presente, temos que conhecer o passado. Em 2004, na comemoração dos 40 anos de sua publicação o jornal The Age (de Melbourne e um dos mais queridos pelos “intelectuais” e artistas australianos) publicou o artigo Still lucky, but getting smarter escrito pelo próprio autor. Aí está um trecho que complementa o que escrevi na introdução:
"But the 1960s was itself a phenomenal decade. I don't mean the international 1960s. Of course they were phenomenal (with a few Australians among the world players). But there was a peculiarly Australian '60s. It was the decade of a public opening out of new ways of seeing Australia, all of them still with us, that offered the greatest renovation of perceptions Australians had known. One can't understand contemporary Australia without going back to the Australian '60s and comparing then with now."
E isso porque estou só no começo do livro! Depois conto mais aqui. Até lá.
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
Notícias da última semana na Austrália
Criança mata criança em escola de Brisbane
Na semana passada um menino de 12 anos foi morto por outro de 13 na St Patrick’s College, escola onde estudavam no norte de Brisbane. Isso foi um escândalo por aqui, esteve na capa dos jornais locais por quase uma semana e houve um imenso debate sobre o assunto. A criança assassina levou uma faca para a escola e, durante uma discussão com a pequena vítima no banheiro, o esfaqueou no peito. O menino morreu no hospital no mesmo dia.
Muitas pessoas acham que a causa disso seria a conjunção de fatores como: muito video-game com jogos violentos; pais que trabalham fora e, culpados por estarem tanto tempo longe de casa, mimam e tratam as crianças como se fossem reizinhos; a falta de autoridade dos professores que, em alguns casos, estão até com medo de irem as escolas e; claro, a própria personalidade da criança assassina.
Vale Tudo em Sydney: Ultimate Fighting Championship
Ontem teve Vale Tudo pela primeira vez na Austrália, aquela luta sangrenta que, como o nome diz, vale tudo: luta no chão, pancada na cabeça, no joelho, chute, soco, tudo tudo. As lutas aconteceram em Sydney e dois brasileiros lutaram: Minotauro Nogueira (que perdeu com 20 segundos de luta) e Vanderlei Silva (que ganhou por pontos).
Outra funcionária da ABC com câncer de mama
Esse é um dos maiores mistérios das ultimas décadas aqui em Brisbane. O canal de televisão ABC (do governo) tinha um estúdio em Brisbane que foi fechado em 2006 após várias funcionárias terem sido diagnosticadas com câncer de mama – uma média seis vezes maior que a média nacional. A notícia desta semana é que outra ex-funcionária (a 18a) descobriu que também tem câncer nos seios. A causa disso? Ninguém sabe e parece que nunca vão descobrir.
Acidente de barco na baía de Sydney com seis mortos
Mais uma reviravolta no caso. Esse eu lembro bem pois ainda morava na Austrália quando aconteceu: foi em maio de 2008. Depois de uma noitada regada a álcool e drogas, na madrugada 14 pessoas decidiram dar uma volta de barco pela baía de Sydney, mas o barco tinha a capacidade máxima de até oito pessoas. Com todo mundo bebum e drogado, deu no que deu: o barquinho bateu em outro barco maior e seis pessoas morreram. A última notícia é que o capitão passou a direção para outro passageiro, que também estava fora de si.
Acaba o esquema de insulação
Ih, esse assunto deu o que falar. O ministro do meio-ambiente Peter Garrett (ex-vocalista do Midnight Oil) encerrou o programa de insulação e aquecimento solar de água. O que aconteceu foi que o governo dava 1200 dólares por casa para as empresas que revestissem os tetos das casas com um tipo de espuma especial para que ela ficasse mais quente no inverno e mais fria no verão e, assim, economizasse energia. A instalação era gratuita pra cada casa e o programa custou 2,5 bilhões de dólares para os cofres do governo australiano.
O problema é que várias empresas de fundo-de-quintal, de olho nesse 1200 por casa que o governo dava, colocavam esse sistema sem nenhuma proteção e com pouco treinamento e, caso acontecesse alguma faísca ou coisa parecida, o negócio facilmente pegava fogo. Resumindo, quatro pessoas morreram enquanto estavam instalando e 90 casas pegaram fogo. Mais aqui, aqui e aqui.
Na semana passada um menino de 12 anos foi morto por outro de 13 na St Patrick’s College, escola onde estudavam no norte de Brisbane. Isso foi um escândalo por aqui, esteve na capa dos jornais locais por quase uma semana e houve um imenso debate sobre o assunto. A criança assassina levou uma faca para a escola e, durante uma discussão com a pequena vítima no banheiro, o esfaqueou no peito. O menino morreu no hospital no mesmo dia.
Muitas pessoas acham que a causa disso seria a conjunção de fatores como: muito video-game com jogos violentos; pais que trabalham fora e, culpados por estarem tanto tempo longe de casa, mimam e tratam as crianças como se fossem reizinhos; a falta de autoridade dos professores que, em alguns casos, estão até com medo de irem as escolas e; claro, a própria personalidade da criança assassina.
Vale Tudo em Sydney: Ultimate Fighting Championship
Ontem teve Vale Tudo pela primeira vez na Austrália, aquela luta sangrenta que, como o nome diz, vale tudo: luta no chão, pancada na cabeça, no joelho, chute, soco, tudo tudo. As lutas aconteceram em Sydney e dois brasileiros lutaram: Minotauro Nogueira (que perdeu com 20 segundos de luta) e Vanderlei Silva (que ganhou por pontos).
Outra funcionária da ABC com câncer de mama
Esse é um dos maiores mistérios das ultimas décadas aqui em Brisbane. O canal de televisão ABC (do governo) tinha um estúdio em Brisbane que foi fechado em 2006 após várias funcionárias terem sido diagnosticadas com câncer de mama – uma média seis vezes maior que a média nacional. A notícia desta semana é que outra ex-funcionária (a 18a) descobriu que também tem câncer nos seios. A causa disso? Ninguém sabe e parece que nunca vão descobrir.
Acidente de barco na baía de Sydney com seis mortos
Mais uma reviravolta no caso. Esse eu lembro bem pois ainda morava na Austrália quando aconteceu: foi em maio de 2008. Depois de uma noitada regada a álcool e drogas, na madrugada 14 pessoas decidiram dar uma volta de barco pela baía de Sydney, mas o barco tinha a capacidade máxima de até oito pessoas. Com todo mundo bebum e drogado, deu no que deu: o barquinho bateu em outro barco maior e seis pessoas morreram. A última notícia é que o capitão passou a direção para outro passageiro, que também estava fora de si.
Acaba o esquema de insulação
Ih, esse assunto deu o que falar. O ministro do meio-ambiente Peter Garrett (ex-vocalista do Midnight Oil) encerrou o programa de insulação e aquecimento solar de água. O que aconteceu foi que o governo dava 1200 dólares por casa para as empresas que revestissem os tetos das casas com um tipo de espuma especial para que ela ficasse mais quente no inverno e mais fria no verão e, assim, economizasse energia. A instalação era gratuita pra cada casa e o programa custou 2,5 bilhões de dólares para os cofres do governo australiano.
O problema é que várias empresas de fundo-de-quintal, de olho nesse 1200 por casa que o governo dava, colocavam esse sistema sem nenhuma proteção e com pouco treinamento e, caso acontecesse alguma faísca ou coisa parecida, o negócio facilmente pegava fogo. Resumindo, quatro pessoas morreram enquanto estavam instalando e 90 casas pegaram fogo. Mais aqui, aqui e aqui.
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
Você lembra do mundo sem internet?
Esse post não é sobre a Austrália, mas achei isso incrível e tinha que dividir com vocês, leitores do blog.
É impressionante esse mundo da internet, né não?!
Enquanto isso, o que lembro do mundo sem internet, sem celular, sem camêras fotográficas digitais, sem redes sociais como Facebook, Orkut e afins...
Euzinha aqui, nascida em 1979 com meus trinta anos de idade, posso dizer que a internet faz e fez parte da minha vida, mas esse fenômeno, pra mim, começou tarde. Faço parte de uma geração que viveu os dois mundos, as duas fronteiras, com um pé lá e outro aqui. Não nasci digitando, não nasci brincando com complexos programas de computador, não nasci na época do celular, muito menos da máquina fotográfica digital... aos poucos vi nascendo essas maquininhas, esses produtos, essas redes sociais, esse mundo super-hiper-conectado e global. Lembro que as perguntas iniciais eram “será que a gente vai precisar disso mesmo?” “Pra que serve?” “Ah, um computador com 16 Mb, quem é que vai precisar disso algum dia? Que exagero!”. Agora, não há perguntas e sim, apenas uma resposta: “eu quero!”.
Quando eu era garota tudo isso era muito novo e a desconfiança ainda fazia parte do nosso mundo. A entrega ainda não era total. Estávamos tateando, descobrindo, éramos até um pouco ingênuos, não sabíamos para onde iríamos, da nossa capacidade, da capacidade do mundo de criar e inovar.
Quando era mais nova me lembro bem quando usávamos o DOS para jogar Piratas no computador. Ao lado do computador tinha um papel com o atalho para se achar o jogo, já que tínhamos que digitar vários códigos e letrinhas para se chegar lá. Se perdessemos o papel, perdíamos a diversão. Ah, e o jogo, é claro, sem nenhuma dimensão, bem diferente do que é hoje onde os piratas se parecem com pessoas reais. Também lembro do Atari, e depois, do Phantom System e do seu concorrente Mega System.
Lembro do Amiga 2000 que o Gustavo, meu irmão-emprestado, ganhou da mãe dele de uma viagem que ela e meu pai fizeram à Europa. Era o máximo do máximo ter um Amiga 2000, o Gustavo virou “o cara” do condomínio com aquele computador... Também lembro dos Floppy Disks enormes, que ficavam guardados numa caixinha ao lado.
Lembro que quando meu pai viajava pra fora do país, antenado que só ele, a primeira pergunta que fazia era: “me contem, o que aconteceu no Brasil?”. Lembro bem que nessa mesma viagem, nós contamos pra ele na volta do aeroporto que o Cazuza tinha morrido. Ele ficou surpreso, afinal, as notícias não viajavam pelo Atlântico em apenas dois cliques. Surpresas essas que quase não existem mais, e quando existem, duram minutos, e não mais dias ou semanas.
Lembro do meu irmão mais velho Beto, lá no distante início dos anos 90, passando três meses na Europa de mochilão sem mandar cartas e nem notícias e a minha mãe, obviamente, desesperada. Às vezes ele ligava, mas sempre um tanto monossilábico provavelmente por causa de alguma sueca ou norueguesa que encontrou em alguma ilha Grega. Uma ligação era uma alegria já que as raras cartas que chegavam contavam histórias de tempos passados, já que uma carta enviada da Inglaterra que seja demorava um mês para chegar em terras tupiniquins. É mãe, você teria ficado feliz se tivesse existido email ou Skype naquela época.
Ainda lembro do curso de datilografia que fiz lá na rua das Laranjeiras, perto do Largo do Machado. Eu e minha irmã íamos juntas, e lembro bem do cartaz em cima do teclado – sim, era assim que aprendíamos, sem poder ver as teclas. Hoje em dia as crianças sabem usar o teclado antes de aprender a andar de bicicleta.
Na minha época de colégio nós fazíamos os trabalhos em folha de papel almasso e cartolina. Lembro de pedir a minha mãe e à minha irmã, ótimas desenhistas, para desenharem as imagens para a feira de ciências, ou para qualquer trabalho que o seja. Os meus coleguinhas adoravam fazer trabalho comigo, sabiam que vinham bons trabalhos no final. E a caligrafia era sempre uma preocupação. Ah, e o Liquid Paper, lembra dele? O papel parecia que tinha três camadas de tanto usá-lo. Era usá-lo ou ter que reescrever tudo de novo.
Os trabalhos, aliás, sempre feitos a base da Enciclopédia Mirador, ou a do Estudante (eram as que tínhamos em casa) ou a Barsa. Hoje em dia a escolha é entre Mac e PC. Lembro que naquela época tínhamos que realmente pesquisar, ler o que estava escrito, resumir, afinal, com tão poucas opções, se copiássemos ipsis literis o que estava na enciclopédia o professor obviamente iria descobrir. Tínhamos que disfarçar. Copy and paste? Há, quem dera. O mundo era cruel.
Lembro também da época que não existia blog – o máximo mesmo eram as agendas, se possível da Cantão ou da Company, coloridérrimas, com adesivos, recortes de jornais e revistas, e que contavam sobre toda a nossa vida. Mas naquela época, ao contrário de hoje em dia, a gente escondia a agenda e não colocava a disposição de uma rede mundial pra todo mundo ler.
Lembro da ansiedade com que esperava uma filme fotográfico ser revelado e, assim, de poder rever as tão esperadas fotos das férias, de festas, da vida. Hoje em dia, repara só, logo após uma foto ser tirada a maioria das crianças (e adultos, claro) já perguntam “deixa eu ver?” ou pulam para trás de você pra poderem ver a telinha da máquina digital e o resultado daquele click.
Lembro quando comecei a época de festinhas e saídas, lá pelos meus 14 anos, e ficava desesperada com a minha mãe e suas intermináveis conversas pelo telefone. Não existia celular, email, msn, Orkut e muito menos Facebook, e se o amigo encontrasse o “tum-tum-tum” na outra linha, já era, uma conversa perdida e nunca nem imaginada. Soh milionario tinha duas linhas em casa, e uns super ricos do colegio tinham ateh PABX com musiquinha, veja soh. Lembro até do número antigo lá de casa, 265-7412, ainda começando com 2 e sete números. Hoje em dia eu nem tenho telefone fixo em casa.
Lembro de chegar em casa e ir direto perguntar pra alguém que já estava lá: “alguém me ligou? Anotou o recado?” “Ah um menino ligou pra você mas não quis deixar o recado” “mas como era a voz dele? Grossa? Fina? O que ele disse? Repete tudo por favor!”. Não tinha missed calls, bina, identificador de chamada, nada disso.
Lembro quando meu pai comprou um celular daquele estilo “tijolão”, devia ser nos áureos 94, 95... lembro que eu me perguntei “mas pra que ele precisa disso, tem telefone em casa ué”. Lembro também uma vez que ele esqueceu o celular em cima do carro e só foi se dar conta disso após sete curvas e três ladeiras – quando parou, o celular ainda estava ali, em cima do carro, paradinho. Ponto pro tijolão.
Lembro bem quando o meu primeiro namorado, o Rodrigo, me mostrou a internet, lá pelos idos de 1996 - eu tinha 16 anos na época. Era caríssimo ter internet naquela epoca. Lembro da linha discada, e do barulho “piiiiiiiiiiiii-proooo-pruprupru-piiiiiiiii” e, enfim, conectado.
Lembro que a minha primeira experiência com a internet foi em um chat, acho que era o ICQ ou o UOL, e eu não entendia nada, não achei muita graça, que coisa mais demorada, meu Deus. Tudo bem, vamos tentar. É, até que não é ruim não... Ah, deixa eu ficar mais um pouquinho?
É impressionante esse mundo da internet, né não?!
Enquanto isso, o que lembro do mundo sem internet, sem celular, sem camêras fotográficas digitais, sem redes sociais como Facebook, Orkut e afins...
Euzinha aqui, nascida em 1979 com meus trinta anos de idade, posso dizer que a internet faz e fez parte da minha vida, mas esse fenômeno, pra mim, começou tarde. Faço parte de uma geração que viveu os dois mundos, as duas fronteiras, com um pé lá e outro aqui. Não nasci digitando, não nasci brincando com complexos programas de computador, não nasci na época do celular, muito menos da máquina fotográfica digital... aos poucos vi nascendo essas maquininhas, esses produtos, essas redes sociais, esse mundo super-hiper-conectado e global. Lembro que as perguntas iniciais eram “será que a gente vai precisar disso mesmo?” “Pra que serve?” “Ah, um computador com 16 Mb, quem é que vai precisar disso algum dia? Que exagero!”. Agora, não há perguntas e sim, apenas uma resposta: “eu quero!”.
Quando eu era garota tudo isso era muito novo e a desconfiança ainda fazia parte do nosso mundo. A entrega ainda não era total. Estávamos tateando, descobrindo, éramos até um pouco ingênuos, não sabíamos para onde iríamos, da nossa capacidade, da capacidade do mundo de criar e inovar.
Quando era mais nova me lembro bem quando usávamos o DOS para jogar Piratas no computador. Ao lado do computador tinha um papel com o atalho para se achar o jogo, já que tínhamos que digitar vários códigos e letrinhas para se chegar lá. Se perdessemos o papel, perdíamos a diversão. Ah, e o jogo, é claro, sem nenhuma dimensão, bem diferente do que é hoje onde os piratas se parecem com pessoas reais. Também lembro do Atari, e depois, do Phantom System e do seu concorrente Mega System.
Lembro do Amiga 2000 que o Gustavo, meu irmão-emprestado, ganhou da mãe dele de uma viagem que ela e meu pai fizeram à Europa. Era o máximo do máximo ter um Amiga 2000, o Gustavo virou “o cara” do condomínio com aquele computador... Também lembro dos Floppy Disks enormes, que ficavam guardados numa caixinha ao lado.
Lembro que quando meu pai viajava pra fora do país, antenado que só ele, a primeira pergunta que fazia era: “me contem, o que aconteceu no Brasil?”. Lembro bem que nessa mesma viagem, nós contamos pra ele na volta do aeroporto que o Cazuza tinha morrido. Ele ficou surpreso, afinal, as notícias não viajavam pelo Atlântico em apenas dois cliques. Surpresas essas que quase não existem mais, e quando existem, duram minutos, e não mais dias ou semanas.
Lembro do meu irmão mais velho Beto, lá no distante início dos anos 90, passando três meses na Europa de mochilão sem mandar cartas e nem notícias e a minha mãe, obviamente, desesperada. Às vezes ele ligava, mas sempre um tanto monossilábico provavelmente por causa de alguma sueca ou norueguesa que encontrou em alguma ilha Grega. Uma ligação era uma alegria já que as raras cartas que chegavam contavam histórias de tempos passados, já que uma carta enviada da Inglaterra que seja demorava um mês para chegar em terras tupiniquins. É mãe, você teria ficado feliz se tivesse existido email ou Skype naquela época.
Ainda lembro do curso de datilografia que fiz lá na rua das Laranjeiras, perto do Largo do Machado. Eu e minha irmã íamos juntas, e lembro bem do cartaz em cima do teclado – sim, era assim que aprendíamos, sem poder ver as teclas. Hoje em dia as crianças sabem usar o teclado antes de aprender a andar de bicicleta.
Na minha época de colégio nós fazíamos os trabalhos em folha de papel almasso e cartolina. Lembro de pedir a minha mãe e à minha irmã, ótimas desenhistas, para desenharem as imagens para a feira de ciências, ou para qualquer trabalho que o seja. Os meus coleguinhas adoravam fazer trabalho comigo, sabiam que vinham bons trabalhos no final. E a caligrafia era sempre uma preocupação. Ah, e o Liquid Paper, lembra dele? O papel parecia que tinha três camadas de tanto usá-lo. Era usá-lo ou ter que reescrever tudo de novo.
Os trabalhos, aliás, sempre feitos a base da Enciclopédia Mirador, ou a do Estudante (eram as que tínhamos em casa) ou a Barsa. Hoje em dia a escolha é entre Mac e PC. Lembro que naquela época tínhamos que realmente pesquisar, ler o que estava escrito, resumir, afinal, com tão poucas opções, se copiássemos ipsis literis o que estava na enciclopédia o professor obviamente iria descobrir. Tínhamos que disfarçar. Copy and paste? Há, quem dera. O mundo era cruel.
Lembro também da época que não existia blog – o máximo mesmo eram as agendas, se possível da Cantão ou da Company, coloridérrimas, com adesivos, recortes de jornais e revistas, e que contavam sobre toda a nossa vida. Mas naquela época, ao contrário de hoje em dia, a gente escondia a agenda e não colocava a disposição de uma rede mundial pra todo mundo ler.
Lembro da ansiedade com que esperava uma filme fotográfico ser revelado e, assim, de poder rever as tão esperadas fotos das férias, de festas, da vida. Hoje em dia, repara só, logo após uma foto ser tirada a maioria das crianças (e adultos, claro) já perguntam “deixa eu ver?” ou pulam para trás de você pra poderem ver a telinha da máquina digital e o resultado daquele click.
Lembro quando comecei a época de festinhas e saídas, lá pelos meus 14 anos, e ficava desesperada com a minha mãe e suas intermináveis conversas pelo telefone. Não existia celular, email, msn, Orkut e muito menos Facebook, e se o amigo encontrasse o “tum-tum-tum” na outra linha, já era, uma conversa perdida e nunca nem imaginada. Soh milionario tinha duas linhas em casa, e uns super ricos do colegio tinham ateh PABX com musiquinha, veja soh. Lembro até do número antigo lá de casa, 265-7412, ainda começando com 2 e sete números. Hoje em dia eu nem tenho telefone fixo em casa.
Lembro de chegar em casa e ir direto perguntar pra alguém que já estava lá: “alguém me ligou? Anotou o recado?” “Ah um menino ligou pra você mas não quis deixar o recado” “mas como era a voz dele? Grossa? Fina? O que ele disse? Repete tudo por favor!”. Não tinha missed calls, bina, identificador de chamada, nada disso.
Lembro quando meu pai comprou um celular daquele estilo “tijolão”, devia ser nos áureos 94, 95... lembro que eu me perguntei “mas pra que ele precisa disso, tem telefone em casa ué”. Lembro também uma vez que ele esqueceu o celular em cima do carro e só foi se dar conta disso após sete curvas e três ladeiras – quando parou, o celular ainda estava ali, em cima do carro, paradinho. Ponto pro tijolão.
Lembro bem quando o meu primeiro namorado, o Rodrigo, me mostrou a internet, lá pelos idos de 1996 - eu tinha 16 anos na época. Era caríssimo ter internet naquela epoca. Lembro da linha discada, e do barulho “piiiiiiiiiiiii-proooo-pruprupru-piiiiiiiii” e, enfim, conectado.
Lembro que a minha primeira experiência com a internet foi em um chat, acho que era o ICQ ou o UOL, e eu não entendia nada, não achei muita graça, que coisa mais demorada, meu Deus. Tudo bem, vamos tentar. É, até que não é ruim não... Ah, deixa eu ficar mais um pouquinho?
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010
De mudança...
Finalmente me mudei para New Farm (de volta para onde morava antes de voltar para o Brasil) e estou bem ocupada desencaixotando coisas e arrumando tudo. Estou feliz: posso vir andando para o trabalho e gosto muito desse bairro, de poder fazer as coisas a pé, de estar perto do agito. Como boa carioca, estou acostumada a descer do prédio e ter tudo por perto, e ainda não me acostumei ao suburban lifestyle de morar meio longe de tudo e ter que usar o carro o tempo todo.
New Farm eh um bairro mais caro pois eh perto do centro (na Australia o centro eh chamado de CBD - Central Business District). Esse eh um dos suburbs mais agitados de Brisbane e na rua ao lado da minha casa deve ter pelo menos uns trinta restaurantes, alem de um supermercado aberto ateh a meia-noite todos os dias, raridade aqui por essas bandas. E o legal desse bairro eh que, mesmo com esse lado mais badalado, ele conserva aquela tranquilidade de cidade pequena que muitas cidades australianas ainda tem. Olha aih embaixo a distancia entre New Farm e o predio em que trabalho (e que fica bem no meio do centro). Tem que distanciar mais o mapa, tirando um pouco o zoom, pra ver melhor.
View Larger Map
Em 2006, assim que cheguei na Austrália, fiz esse vídeozinho abaixo para mostrar um pouco de Brisbane para a a família e amigos. O video mostra a casa que eu voltei a morar nessa semana. Na época que o vídeo foi feito eu dividia a casa com a Fabíola, Thalita e David e ainda nem conhecia o Aaron...
PS.: Tem um post no forno: sobre os preços de aluguéis e compra de imóveis na Austrália. Em breve ele sai, não desistam do blog.
PS 2: Ainda nao fui pra Tailandia.
New Farm eh um bairro mais caro pois eh perto do centro (na Australia o centro eh chamado de CBD - Central Business District). Esse eh um dos suburbs mais agitados de Brisbane e na rua ao lado da minha casa deve ter pelo menos uns trinta restaurantes, alem de um supermercado aberto ateh a meia-noite todos os dias, raridade aqui por essas bandas. E o legal desse bairro eh que, mesmo com esse lado mais badalado, ele conserva aquela tranquilidade de cidade pequena que muitas cidades australianas ainda tem. Olha aih embaixo a distancia entre New Farm e o predio em que trabalho (e que fica bem no meio do centro). Tem que distanciar mais o mapa, tirando um pouco o zoom, pra ver melhor.
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Em 2006, assim que cheguei na Austrália, fiz esse vídeozinho abaixo para mostrar um pouco de Brisbane para a a família e amigos. O video mostra a casa que eu voltei a morar nessa semana. Na época que o vídeo foi feito eu dividia a casa com a Fabíola, Thalita e David e ainda nem conhecia o Aaron...
PS.: Tem um post no forno: sobre os preços de aluguéis e compra de imóveis na Austrália. Em breve ele sai, não desistam do blog.
PS 2: Ainda nao fui pra Tailandia.
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
Imigração australiana fecha as porteiras
Resumo das matérias do jornal O Dia Online e do Terra sobre as mudanças anunciadas ontem, dia 8 de fevereiro, pelo ministro de imigração australiano (Department of Immigration and Citizenship) :
O Governo da Austrália resolveu mudar as regras de concessão de residência a estrangeiros para conter o fluxo de imigrantes para o país. O ministro da Imigração australiano, Chris Evans, informou que a lista de profissões em falta no país vai ser abolida e a política de entrada de estrangeiros será concentrada em pessoas com alta qualificação profissional. (nota minha: antes existia uma lista com certas profissões em demanda na Austrália - engenheiros, trabalhadores da construção civil, médicos, arquitetos, chefs de cozinha, carpinteiros, cabaleireiros... eram mais de 50 profissões. Se a sua profissão estivesse nessa lista você teria preferência no processo de imigração para a Austrália, que é baseado no sistema de pontos).
"Temos dezenas de milhares de estudantes cursando culinária, contabilidade e (curso de) cabeleireiro porque isso estava na lista e permitiu que eles conseguissem a residência permanente", disse Evans a uma rádio australiana. (nota: é verdade, existem milhares de pessoas - e muitos brasileiros que conheço - que só fizeram esses cursos para conseguir o visto. Uma vez conseguido o visto permanente, essas pessoas vão trabalhar em outra área. O Aaron, meu marido que é chef de verdade, tinha horror a essa política, já que inundava o mercado com chefs que não sabiam nem segurar uma faca e colocava o salário dos chefs "reais" lá embaixo).
As novas prioridades vão incluir médicos e enfermeiras, além de engenheiros e profissionais da mineração, setor que encontra dificuldades para atender a crescente demanda por matéria-prima da China.
A mudança de política se junta a outras medidas introduzidas recentemente e que marcam um endurecimento na política de imigração do país (nota: depois da crise econômica os australianos ficaram com mais medo de terem menos empregos e deles serem tomados pelos estrangeiros. Junto a isso, esse é ano de eleição na Austrália, e obviamente essa política de imigração mais fechada agrada muito aos votantes).
Desde o final do ano passado, o governo passou a fazer novas exigências para a concessão de vistos a estudantes estrangeiros.
A renda mínima que um estudante tem que comprovar através de extratos bancários do seu o países de origem subiu de R$ 19 mil para R$ 29 mil por ano - uma média de R$ 2,5 mil por mês.
Ao solicitar o visto nas representações consulares australianas, além de apresentar os extratos bancários, os estudantes têm que apresentar documentos como matrícula em universidade ou comprovante de trabalho fixo, para provar que tem vínculo com o país de origem e condições financeiras de se sustentar na Austrália.
O Brasil é o sexto país que mais envia estudantes anualmente para a Austrália, atrás da Índia, China, Nepal, Coreia do Sul e Tailândia, respectivamente.
Informações oficiais direto do site da Imigração da Austrália aqui.
Mais, em inglês, no Daily Telegraph e ABC News.
O Governo da Austrália resolveu mudar as regras de concessão de residência a estrangeiros para conter o fluxo de imigrantes para o país. O ministro da Imigração australiano, Chris Evans, informou que a lista de profissões em falta no país vai ser abolida e a política de entrada de estrangeiros será concentrada em pessoas com alta qualificação profissional. (nota minha: antes existia uma lista com certas profissões em demanda na Austrália - engenheiros, trabalhadores da construção civil, médicos, arquitetos, chefs de cozinha, carpinteiros, cabaleireiros... eram mais de 50 profissões. Se a sua profissão estivesse nessa lista você teria preferência no processo de imigração para a Austrália, que é baseado no sistema de pontos).
"Temos dezenas de milhares de estudantes cursando culinária, contabilidade e (curso de) cabeleireiro porque isso estava na lista e permitiu que eles conseguissem a residência permanente", disse Evans a uma rádio australiana. (nota: é verdade, existem milhares de pessoas - e muitos brasileiros que conheço - que só fizeram esses cursos para conseguir o visto. Uma vez conseguido o visto permanente, essas pessoas vão trabalhar em outra área. O Aaron, meu marido que é chef de verdade, tinha horror a essa política, já que inundava o mercado com chefs que não sabiam nem segurar uma faca e colocava o salário dos chefs "reais" lá embaixo).
As novas prioridades vão incluir médicos e enfermeiras, além de engenheiros e profissionais da mineração, setor que encontra dificuldades para atender a crescente demanda por matéria-prima da China.
A mudança de política se junta a outras medidas introduzidas recentemente e que marcam um endurecimento na política de imigração do país (nota: depois da crise econômica os australianos ficaram com mais medo de terem menos empregos e deles serem tomados pelos estrangeiros. Junto a isso, esse é ano de eleição na Austrália, e obviamente essa política de imigração mais fechada agrada muito aos votantes).
Desde o final do ano passado, o governo passou a fazer novas exigências para a concessão de vistos a estudantes estrangeiros.
A renda mínima que um estudante tem que comprovar através de extratos bancários do seu o países de origem subiu de R$ 19 mil para R$ 29 mil por ano - uma média de R$ 2,5 mil por mês.
Ao solicitar o visto nas representações consulares australianas, além de apresentar os extratos bancários, os estudantes têm que apresentar documentos como matrícula em universidade ou comprovante de trabalho fixo, para provar que tem vínculo com o país de origem e condições financeiras de se sustentar na Austrália.
O Brasil é o sexto país que mais envia estudantes anualmente para a Austrália, atrás da Índia, China, Nepal, Coreia do Sul e Tailândia, respectivamente.
Informações oficiais direto do site da Imigração da Austrália aqui.
Mais, em inglês, no Daily Telegraph e ABC News.
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
Mil palavras
Escrevi bastante nos ultimos posts, por isso hoje vou apenas mostrar fotos que tirei aqui na Australia nos ultimos tres anos... (clique para aumenta-la)
(acima) Brisbane ao entardecer. Eu caminho perto desses predios no trajeto casa-trabalho-casa. Ao fundo a famosa Story Bridge, o CityCat no rio (transporte publico) e na calcada ao lado do rio, varios bares e restaurantes.
Vista panoramica. Do outro lado estah o bairro chamado Kangaroo Point.
Existe mais cliche do que isso? Mas tinha que ter. Essa foi tirada ha quase tres anos atras no Australia Zoo da familia Irwin, a 1 hora ao norte de Brisbane.
Eh isso que voce ve quando chega na Grande Barreira de Corais.
Falando nela...
Comentei sobre esse lugar nesse post: eh o Museu do Tubarao, em Airlie Beach, norte de Queensland (Dezembro de 2007).
Whitehaven Beach, Whitsundays Islands, Queensland.
Terminal-porto de Mackay, norte de Queensland (Dezembro de 2007). A producao de carvao do centro de Queensland eh ecoada pra cah, e no horizonte voce ve muitos, mas muitos navios esperando para se encherem de carvao e rumarem para os paises-compradores (provavelmente China).
Ao final daquele tubo o navio para e espera ser enchido de carvao.
Nascer do sol em Caloundra, uma hora ao norte de Brisbane (Maio de 2007).
Magnetic Island, em frente a cidade de Townsville, norte de Queensland. Soh pode cair dentro do espaco limitado por essas boias que seguram a rede contra aguas-vivas (Janeiro de 2008).
Beach Report, feito pelos salva-vidas toda manha, fala sobre as mares, correntes e condicoes do mar (Magnetic Island, Janeiro de 2008).
Melbourne (Marco de 2008).
Melbourne (Marco de 2008).
Noosa (Novembro de 2006).
Bondi Beach, Sydney (Novembro de 2006).
Vista de Brisbane, 2006
To be continued...
domingo, 7 de fevereiro de 2010
Você sabe que é um brasileiro na Austrália quando...
- Mesmo achando que está abafando com o seu melhor inglês, na hora que você fala “Hi how are you” alguém te pergunta de volta: “Hi where your accent come from?” (“De onde vem o seu sotaque” – uma forma sutil e bem australiana de perguntar de que país você vem);
- Quando lê uma porta com uma placa escrito “push”, você a puxa ao invés de empurrá-la;
- Você não entende por que todas as carnes e linguiças de um churrasco são feitas de uma só vez, e quando chega a hora de comer, já está tudo frio;
- Toda vez que você vai à praia, morre de saudades da cervejinha gelada, sorvete, milho cozido, água-de-coco etc sendo vendidos;
- No caso das mulheres, na praia você é a única a usar um biquini pequeno e acha que os biquinis australianos se parecem com fraldas (vale para calcinha também);
- Você é a pessoa mais animada do escritório em que trabalha: fala oi quando chega, oi quando vai almoçar e tchau quando vai embora;
- No trabalho, você não entende como os australianos conseguem almoçar na mesa, de frente pro computador, e odeia o cheiro de comida que fica no escritório na hora do almoço;
- Também no trabalho, é o único que escova os dentes depois do almoço;
- Você não consegue comer Vegemite de jeito nenhum e não se convence que isso faz bem pra saúde;
- Você aprende a viver em um país com leis e fica com vergonha do “jeitinho” brasileiro;
- Ainda não aprendeu a usar abridor de latas australiano;
- Não se acostuma a ter que levar sua sacola “verde” pro supermercado ou pagar por cada saco plástico usado;
- Mesmo nascendo em um dos países com a maior diversidade de pessoas do mundo, você identifica um brasileiro de longe;
- Você passa a usar cinto de segurança no banco de trás do carro e começa a não entender por que no Brasil isso ainda não é obrigatório;
- Você morre de saudades de pão fresquinho da padaria;
- Acha muito estranho não ter gente nas ruas, principalmente nos bairros mais afastados e se pergunta “meu Deus, cadê esse povo?”;
- Você tem medo de andar em uma faixa para pedestres pois acha que o carro não vai parar pra você;
- Pra você, hotel é lugar para dormir e não pra beber;
- No trabalho, você se sente meio culpado por sair as 5 já que estava acostumado a sempre sair tarde;
- Você acha estranho fast food ser tão barata e frutas e verduras, tão caras;
- Você não consegue se comunicar com 80% dos Customer Services e Call Centers por que não entende o sotaque indiano;
- Nunca entendeu por que os shopping centers fecham as 5:30 da tarde e se pergunta se os australianos não querem fazer dinheiro;
- Se acha o máximo por falar duas línguas (três vai, portunhol também conta), já que a maior parte dos australianos só fala uma;
- Adora finalmente poder morar em uma casa, e não em um apartamento;
- Acha que australiano fala “sorry” demais;
- Tem ódio mortal das moscas australianas;
- É a pessoa que fala mais alto em um restaurante, no ônibus, em uma loja, em qualquer lugar;
- Ama poder sair da praia e encontrar um chuveiro de água doce e um banheiro público limpo e gratuito;
- Não entende porque no trânsito, os carros ficam um atrás do outro em uma mesma fila enquanto a outra fila ao lado está completamente vazia;
- É o único que chega no bar e tenta chamar a atenção da atendente falando “hey”.
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
A história da gaúcha que morreu em Sydney
É o pesadelo de qualquer mãe ou pai: a sua filha vai morar do outro lado do mundo para estudar, fica na Austrália por três anos e, de repente, vira manchete nos jornais por ter sido encontrada morta, com apenas 22 anos de idade, no apartamento de 1,7 milhões de dólares de um neurocirurgião. O corpo foi descoberto quando o Dr. Suresh Surendranath Nair não apareceu para uma cirurgia e seus colegas chamaram a polícia, que arrombou a casa e encontrou o corpo da brasileira.
O caso já está na imprensa há algum tempo: ela foi encontrada morta no dia 21 de novembro passado e, desde então, já rolou muita especulação sobre o assunto. Suellen Domingues Zapua não trabalhava e recebia uma mesada dos pais para se manter e concluir o curso de Turismo e Hotelaria. Após dois meses e meio de investigação descobriram que ela morreu de overdose de cocaína.
Segundo a imprensa australiana tudo indicava que a menina era prostituta de luxo, mas a família e os amigos ouvidos falaram que era impossível – ou, se fosse verdade, seria o segredo mais bem guardado da história. Por outro lado, os vizinhos desse neurocirugião falaram que era muito comum ele receber a visita de “escorts” e várias garotas de programa foram vistas andando pelo prédio. Em fevereiro do ano passado outra menina de 23 anos (essa prostituta comprovada) morreu de overdose no hospital após consumir drogas no apartamento desse mesmo médico. O caso voltou para a midia hoje pois o médico foi finalmente acusado da morte delas duas.
Participo de uma comunidade na internet sobre a Australia composta por brasileiros e esse assunto gerou um acalorado debate: algumas pessoas acharam um absurdo a imprensa australiana manchar a reputação da menina dessa forma, afinal, ela não era prostituta de jeito nenhum e que ela deve ter bebido algo em algum bar (o famoso Boa noite Cinderela) e, drogada por outra pessoa, não tinha consciência sobre o que estava fazendo. Outra coisa que muitos falaram foi que, como nós brasileiras temos uma péssima reputação mundo afora, fica muito mais "fácil" a imprensa australiana falar que a menina era prostituta – afinal, quem não vai acreditar? Alguns brasileiros querem limpar a imagem da Suellen e já até criaram uma página na internet para que as pessoas coloquem seu depoimento sobre a menina, forçando a imprensa a fazer uma “limpeza” na imagem que foi inicialmente propagada.
Falando tudo isso eu me sinto mexendo numa casa de marimbondos. Sinceramente, não conheço a menina, não conheço a família dela, não conheço nada e nem ninguém, só o que li nos jornais, no Orkut, em sites etc. Não posso dizer que ela era prostituta, que ela não era, quem ela era, quem não era, tudo o que eu falar será mera suposição com base nos fatos relatados por outros.
O que eu acho disso tudo é que o caso nos ensina muito. Primeiro, a não acreditar em tudo que se lê. A duvidar, e isso inclui duvidar também da bloguista aqui que vos fala - não por que eu sou uma mentirosa-manipuladora, mas por que, como falei na introdução desse post aqui, cada um inventa a novela e os atores na sua própria cabeça, e isso inclui jornalistas, escritores, bloguistas, engenheiros, garçons, mães de família – todo mundo. Mas é claro, jornalista deve apurar fatos, e é isso que deveria diferenciá-lo das pessoas que não tem o dever de escrever coisas com fatos comprovados como eles tem. É pra isso que jornalista estuda, faz faculdade – para aprender a não dar a sua opinião e sim, se limitar a esses fatos (a não ser que seja um colunista-jornalista, mas aí é outra história).
Segundo, que a mídia faz o que quiser com a nossa limitada cabeça – manipula, distorce, cria, mente, inventa. E que, por outro lado, nessa época de internet e de constante bombardeio de informação a que estamos sujeitos, ficamos mais perdidos do que cego em tiroteio, sem saber em quem confiar, em quem acreditar.
Por outro lado, não posso dizer categoricamente que a menina não era prostituta. Como é que euzinha, sentada aqui em uma casa de um bairro de Brisbane, sem conhecer a menina, posso saber? A mente humana é capaz de manter os mais profundos segredos. Não estou, de forma alguma, querendo dizer que ela era mas quero dizer apenas que não posso dizer nada com certeza absoluta sem te-la conhecido, sem conhecer a sua historia e apenas embasando a minha opiniao, mais uma vez, nos outros. Eu estaria me colocando no lugar do jornalista que escreveu a história dizendo que ela era prostituta.
Concordo com a causa dessa pagina no sentido de que o veículo que publicou que ela era uma deveria esclarecer que essa não é uma informacao comprovada e que eles nunca deveriam ter falado isso. Um belo mea-culpa, de repente com entrevistas da mae, familia, amigos mostrando o outro lado dela. Mas por questões puramente jornalísticas, e não pela emoção do fato (tipo “ah, ela era brasileira e temos que limpar a imagem dela”).
Que Deus a tenha.
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
Post 2 – Jeitinho: Inglês Australiano
No post anterior sobre o “jeitinho” australiano eu falei um pouco sobre a forma com que eles se aproximam de pessoas novas/desconhecidas, do jeito morno deles se expressarem (aliás, vários brasileiros se identificaram com a nosso querido e onipresente ponto de exclamação, quase inexistente na escrita australiana), de planejarem encontros, do small talk... hoje vou me aprofundar um pouco no jeito deles falarem (principalmente o sotaque e as gírias).
Antes de começar é bom destacar que, se você está acostumado com o inglês americano de seriados e filmes, esquece. Um novo e inexplorado mundo se abre a sua frente. Assim como existe o português brasileiro e o português de Portugal, existe diferentes tipos de inglês (americano, da Inglaterra, indiano, canadense, sul-africano, australiano etc). Apesar de ter a mesma base, eles são diferentes e leva um bom tempo para se acostumar e pegar o jeito.
Pra mim as principais características seriam: o inglês australiano falado é totalmente anasalado e cheio de gírias. Só pra dar uma idéia do problema: comecei a trabalhar como garçonete na primeira semana que cheguei aqui, em 2006. Fui atender a um pedido e perguntei para o cliente “What would you like to drink?”, crente que estava abafando, já que meu inglês (americano) já era bom do Brasil. O cara me respondeu: “Ãn Duoieti Kõõõk”. “I beg your pardon? (?!??)” ““Ãn Duoieti Kõõõk mãait”. Ihh já era, não sei mais falar inglês, desaprendi. Pedi para uma australiana que trabalhava lá para voltar a mesa e perguntar pra mim (coitado do cara, depois perguntam por que australianos não tem muita paciência com estrangeiros). E aí, descobri: uma Diet Coke. Uma simples e singela Diet Coke. Putz, ferrou.
Alguns falam meio de boca fechada e com o tom de voz mais alto (o que, no final, não fica tão alto assim já que eles estão justamente de boca meio fechada). Diz a lenda que eles realmente falam de boca um pouco mais fechada por causa das moscas, que são muitas aqui na Austrália, principalmente no verão. E, quanto mais ao norte, pior o sotaque fica (e – acho que não por acaso - mais mosca tem). Quanto mais ocker (ocker é a versão australiana do americano redneck, que é aquele cara meio sem cultura, da working class), pior o sotaque. Alguns falam meio rápido, parece que cortam a palavra no final, a última sílaba desaparece.
Calma que nem todo mundo é assim. Já vi algumas pessoas falarem com o sotaque bem inglês (da Inglaterra), estilo Hugh Grant, mas é raro. Os apresentadores de jornais na televisão falam esse inglês mais carregado, mas me soa falso e forçado.
Na verdade a maioria fala com uma versão mais branda do sotaque anasalado. Mesmo assim, ainda é difícil de entender, principalmente no início. Não é só pelo sotaque, mas também, pelas (muitas) gírias. Enquanto para nós aumentar a palavra com inho ou inha a faz ficar mais leve e cordial, aqui é ao contrário: a palavra fica mais curta. Aprenda, é assim que se fala na Austrália (assim como no Brasil, não é todo mundo que usa essas gírias, mas muita gente usa):
Umbrella é brolly
Conversation é convo
Afternoon é arvo
Chocolate é choccie
Sandwich é sanga
Breakfast é brekky
Spaghetti bolognaise é spag boll
Picture é picky/piccie
Biscuit é bikky
Service Station (posto de gasolina) é servo
Barbecue is barbie
(e a lista é interminável)
Como os australianos adoooram falar informalmente (eles são os reis da informalidade, isso vai de usar o chinelo em todos os lugares a falar G’Day Mate para a Rainha da Inglaterra – sim, essa história é veridica), é muito comum escutar bikky, Andy (para Andrew), Stevo (para Steven), enfim, todas essas gírias enquanto eles conversam conosco, pobres brasileiros acostumados com o yankee English.
Esse site tem uma teoria que faz sentido:
Bearing in mind that our lowest class [i.e. the convicts] brought with it a peculiar language [to Australia], and is constantly supplied with fresh corruption, you will understand why pure English is not, and is not likely to become, the language of the colony.
Fora isso tudo, existem diversas palavras diferentes entre o inglês australiano e americano. Nesse link você encontrará muitas delas, vou colocar só alguns exemplos aqui:
Australia – American
Autumn – fall
Booking - reservation
Bottle shop - liquor store
CBD (Central Business District) - downtown
Cyclone - hurricane
Film (film star, film producer etc) - movie (movie star, movie producer etc)
Flat or unit - apartment
Footpath, pavement – sidewalk
Lawyer/solicitor – attorney
Rubbish bin (& rubbish tip) - trash can or garbage can (& garbage dump)
Holiday - vacation
Survey – poll
Queue – line
Ah, mudando um pouquinho de assunto, outra palavra que eles falam muito é sorry. Sorry pra tudo, chega até a ser chato. Às vezes não é culpa da pessoa ou é uma situação fora do controle dela, mas mesmo assim eles falam sorry.
Outra coisa que uma Australiana aqui do meu trabalho me mandou (sim, eu faço meu dever de casa e pergunto diretamente na fonte, e não só no Google tá?! Rsrs):
When Australians are asked how are you? and we reply "good thanks" and nothing more, I guess it’s partly because we are private people and on the other hand we are brought up to be tough and to not unload all of our problems on to other people. Also the Australian culture is not to let people see you cry because it is a sign of weakness, failure, vulnerability.
Por último, dá uma olhada nesse vídeo que você vai entender melhor tudo isso que eu falei.
Esse post tá mais parecendo uma aula né?! Chega por hoje, vou ficando por aqui.
Antes de começar é bom destacar que, se você está acostumado com o inglês americano de seriados e filmes, esquece. Um novo e inexplorado mundo se abre a sua frente. Assim como existe o português brasileiro e o português de Portugal, existe diferentes tipos de inglês (americano, da Inglaterra, indiano, canadense, sul-africano, australiano etc). Apesar de ter a mesma base, eles são diferentes e leva um bom tempo para se acostumar e pegar o jeito.
Pra mim as principais características seriam: o inglês australiano falado é totalmente anasalado e cheio de gírias. Só pra dar uma idéia do problema: comecei a trabalhar como garçonete na primeira semana que cheguei aqui, em 2006. Fui atender a um pedido e perguntei para o cliente “What would you like to drink?”, crente que estava abafando, já que meu inglês (americano) já era bom do Brasil. O cara me respondeu: “Ãn Duoieti Kõõõk”. “I beg your pardon? (?!??)” ““Ãn Duoieti Kõõõk mãait”. Ihh já era, não sei mais falar inglês, desaprendi. Pedi para uma australiana que trabalhava lá para voltar a mesa e perguntar pra mim (coitado do cara, depois perguntam por que australianos não tem muita paciência com estrangeiros). E aí, descobri: uma Diet Coke. Uma simples e singela Diet Coke. Putz, ferrou.
Alguns falam meio de boca fechada e com o tom de voz mais alto (o que, no final, não fica tão alto assim já que eles estão justamente de boca meio fechada). Diz a lenda que eles realmente falam de boca um pouco mais fechada por causa das moscas, que são muitas aqui na Austrália, principalmente no verão. E, quanto mais ao norte, pior o sotaque fica (e – acho que não por acaso - mais mosca tem). Quanto mais ocker (ocker é a versão australiana do americano redneck, que é aquele cara meio sem cultura, da working class), pior o sotaque. Alguns falam meio rápido, parece que cortam a palavra no final, a última sílaba desaparece.
Calma que nem todo mundo é assim. Já vi algumas pessoas falarem com o sotaque bem inglês (da Inglaterra), estilo Hugh Grant, mas é raro. Os apresentadores de jornais na televisão falam esse inglês mais carregado, mas me soa falso e forçado.
Na verdade a maioria fala com uma versão mais branda do sotaque anasalado. Mesmo assim, ainda é difícil de entender, principalmente no início. Não é só pelo sotaque, mas também, pelas (muitas) gírias. Enquanto para nós aumentar a palavra com inho ou inha a faz ficar mais leve e cordial, aqui é ao contrário: a palavra fica mais curta. Aprenda, é assim que se fala na Austrália (assim como no Brasil, não é todo mundo que usa essas gírias, mas muita gente usa):
Umbrella é brolly
Conversation é convo
Afternoon é arvo
Chocolate é choccie
Sandwich é sanga
Breakfast é brekky
Spaghetti bolognaise é spag boll
Picture é picky/piccie
Biscuit é bikky
Service Station (posto de gasolina) é servo
Barbecue is barbie
(e a lista é interminável)
Como os australianos adoooram falar informalmente (eles são os reis da informalidade, isso vai de usar o chinelo em todos os lugares a falar G’Day Mate para a Rainha da Inglaterra – sim, essa história é veridica), é muito comum escutar bikky, Andy (para Andrew), Stevo (para Steven), enfim, todas essas gírias enquanto eles conversam conosco, pobres brasileiros acostumados com o yankee English.
Esse site tem uma teoria que faz sentido:
Bearing in mind that our lowest class [i.e. the convicts] brought with it a peculiar language [to Australia], and is constantly supplied with fresh corruption, you will understand why pure English is not, and is not likely to become, the language of the colony.
Fora isso tudo, existem diversas palavras diferentes entre o inglês australiano e americano. Nesse link você encontrará muitas delas, vou colocar só alguns exemplos aqui:
Australia – American
Autumn – fall
Booking - reservation
Bottle shop - liquor store
CBD (Central Business District) - downtown
Cyclone - hurricane
Film (film star, film producer etc) - movie (movie star, movie producer etc)
Flat or unit - apartment
Footpath, pavement – sidewalk
Lawyer/solicitor – attorney
Rubbish bin (& rubbish tip) - trash can or garbage can (& garbage dump)
Holiday - vacation
Survey – poll
Queue – line
Ah, mudando um pouquinho de assunto, outra palavra que eles falam muito é sorry. Sorry pra tudo, chega até a ser chato. Às vezes não é culpa da pessoa ou é uma situação fora do controle dela, mas mesmo assim eles falam sorry.
Outra coisa que uma Australiana aqui do meu trabalho me mandou (sim, eu faço meu dever de casa e pergunto diretamente na fonte, e não só no Google tá?! Rsrs):
When Australians are asked how are you? and we reply "good thanks" and nothing more, I guess it’s partly because we are private people and on the other hand we are brought up to be tough and to not unload all of our problems on to other people. Also the Australian culture is not to let people see you cry because it is a sign of weakness, failure, vulnerability.
Por último, dá uma olhada nesse vídeo que você vai entender melhor tudo isso que eu falei.
Esse post tá mais parecendo uma aula né?! Chega por hoje, vou ficando por aqui.
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
Associações comunitárias: fazendo valer a voz do cidadão
Nesse final de semana li uma matéria excelente na revista Q Weekend, que vem encartada no jornal local de Brisbane The Courier Mail. O que mais me chamou a atenção foi a diferença nas atitudes de brasileiros e australianos na questão central da matéria, que falava sobre a imensa quantidade de associações comunitárias em Brisbane contra coisas que a população não concorda e não quer deixar acontecer.
Bem, deixa eu explicar melhor: como já falei algumas vezes pra vocês que lêem o blog (vejam aqui e aqui), Brisbane é a cidade que mais cresce na Austrália. Cresce em tudo: população, número de prédios, de necessidades estruturais (ex: novas antenas para telecomunicações etc), supermercados, lojas, calçadas, estradas etc etc. Muitas vezes esse crescimento acarreta, por exemplo, na demolição de prédios históricos que são substituídos por prédios altos e modernos, na construção de mega-supermercados em áreas muito tranquilas, na colocação de antenas de transmissão de dados perto de escolas... ou seja, inúmeras mudanças para a população que já mora aqui e que tem uma vidinha tranquila, e em sua maioria, pra eles essas mudanças são pra pior.
É claro que para o governo todas essas mudanças significam mais dinheiro arrecadado, então o que eles querem mesmo é que as mudanças sejam feitas. Os empresários, por questões óbvias, também. Quem sobra no meio, sem dinheiro e nem poder? A população. E o que eles fazem para serem ouvidos? Se juntam através dessas associações e assim, se defendem, gritam, esperneiam, mas não ficam quietos frente ao que acham que está errado, ao que podem mudar. E aí está a diferença. Por que uma coisa é reclamar numa mesa de bar, ou em um espaço de comentários de um grande jornal. Outra coisa é se organizar, juntar mais gente para dar mais força a sua defesa, ir ao local com cartazes e o escambau, fazer boicotes contra certas empresas que teimam em não ouvir a população, usar a internet como meio de comunicação para espalhar o assunto (nisso a Austrália tem vantagem já que tem muito mais gente conectada do que no Brasil). E é isso que eu não vejo nós, brasileiros, fazendo. Vejo um grito e outro, uma passeata aqui e acolá, mas não associações estruturadas e efetivas, fazendo cobranças ferrenhas e constantes sobre aquilo que não acham certo. Eu tomei a matéria como um belo exemplo pro Brasil. Sobre o poder que temos e que não usamos, e sobre como isso pode fazer a diferença.
Para ilustrar a matéria eles colocaram como exemplo uma nova antena de telecomunicações que a Telstra (a maior companhia telefônica da Austrália) quer colocar perto de uma escola em Mt-Cotha, que é o ponto mais alto de Brisbane. Muita gente não quer essa antena lá: moradores e pais das crianças que estudam nessa escola. O principal motivo deles não quererem a antena, veja só, é por que as ondas de rádio que transitam por ali podem afetar a saúde das crianças. Nada disso é comprovado cientificamente ainda, talvez essas ondas transmissoras nem sejam tão maléficas assim, mas por precaução – já que, daqui a 20 anos, podem descobrir que elas são altamente cancerígenas, por exemplo – eles preferem não expor as crianças.
Vasculhei a internet pra colocar o link pra matéria aqui, mas não encontrei (não é a primeira vez que não acho matérias online dessa revista). Seguem a foto da capa e da passeata contra a tal antena.
Bem, deixa eu explicar melhor: como já falei algumas vezes pra vocês que lêem o blog (vejam aqui e aqui), Brisbane é a cidade que mais cresce na Austrália. Cresce em tudo: população, número de prédios, de necessidades estruturais (ex: novas antenas para telecomunicações etc), supermercados, lojas, calçadas, estradas etc etc. Muitas vezes esse crescimento acarreta, por exemplo, na demolição de prédios históricos que são substituídos por prédios altos e modernos, na construção de mega-supermercados em áreas muito tranquilas, na colocação de antenas de transmissão de dados perto de escolas... ou seja, inúmeras mudanças para a população que já mora aqui e que tem uma vidinha tranquila, e em sua maioria, pra eles essas mudanças são pra pior.
É claro que para o governo todas essas mudanças significam mais dinheiro arrecadado, então o que eles querem mesmo é que as mudanças sejam feitas. Os empresários, por questões óbvias, também. Quem sobra no meio, sem dinheiro e nem poder? A população. E o que eles fazem para serem ouvidos? Se juntam através dessas associações e assim, se defendem, gritam, esperneiam, mas não ficam quietos frente ao que acham que está errado, ao que podem mudar. E aí está a diferença. Por que uma coisa é reclamar numa mesa de bar, ou em um espaço de comentários de um grande jornal. Outra coisa é se organizar, juntar mais gente para dar mais força a sua defesa, ir ao local com cartazes e o escambau, fazer boicotes contra certas empresas que teimam em não ouvir a população, usar a internet como meio de comunicação para espalhar o assunto (nisso a Austrália tem vantagem já que tem muito mais gente conectada do que no Brasil). E é isso que eu não vejo nós, brasileiros, fazendo. Vejo um grito e outro, uma passeata aqui e acolá, mas não associações estruturadas e efetivas, fazendo cobranças ferrenhas e constantes sobre aquilo que não acham certo. Eu tomei a matéria como um belo exemplo pro Brasil. Sobre o poder que temos e que não usamos, e sobre como isso pode fazer a diferença.
Para ilustrar a matéria eles colocaram como exemplo uma nova antena de telecomunicações que a Telstra (a maior companhia telefônica da Austrália) quer colocar perto de uma escola em Mt-Cotha, que é o ponto mais alto de Brisbane. Muita gente não quer essa antena lá: moradores e pais das crianças que estudam nessa escola. O principal motivo deles não quererem a antena, veja só, é por que as ondas de rádio que transitam por ali podem afetar a saúde das crianças. Nada disso é comprovado cientificamente ainda, talvez essas ondas transmissoras nem sejam tão maléficas assim, mas por precaução – já que, daqui a 20 anos, podem descobrir que elas são altamente cancerígenas, por exemplo – eles preferem não expor as crianças.
Vasculhei a internet pra colocar o link pra matéria aqui, mas não encontrei (não é a primeira vez que não acho matérias online dessa revista). Seguem a foto da capa e da passeata contra a tal antena.
Foi mal mas ainda não tive tempo de escanear a matéria e colocá-la aqui. Se alguém gostou do assunto, escreve um comentário que eu faço isso tá? Matérias como essa são sempre boas e devem ser espalhadas por aí, por isso escanear não é perda de tempo, e sim, um investimento...
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