quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A história da gaúcha que morreu em Sydney

É o pesadelo de qualquer mãe ou pai: a sua filha vai morar do outro lado do mundo para estudar, fica na Austrália por três anos e, de repente, vira manchete nos jornais por ter sido encontrada morta, com apenas 22 anos de idade, no apartamento de 1,7 milhões de dólares de um neurocirurgião. O corpo foi descoberto quando o Dr. Suresh Surendranath Nair não apareceu para uma cirurgia e seus colegas chamaram a polícia, que arrombou a casa e encontrou o corpo da brasileira.

O caso já está na imprensa há algum tempo: ela foi encontrada morta no dia 21 de novembro passado e, desde então, já rolou muita especulação sobre o assunto. Suellen Domingues Zapua não trabalhava e recebia uma mesada dos pais para se manter e concluir o curso de Turismo e Hotelaria. Após dois meses e meio de investigação descobriram que ela morreu de overdose de cocaína.

Segundo a imprensa australiana tudo indicava que a menina era prostituta de luxo, mas a família e os amigos ouvidos falaram que era impossível – ou, se fosse verdade, seria o segredo mais bem guardado da história. Por outro lado, os vizinhos desse neurocirugião falaram que era muito comum ele receber a visita de “escorts” e várias garotas de programa foram vistas andando pelo prédio. Em fevereiro do ano passado outra menina de 23 anos (essa prostituta comprovada) morreu de overdose no hospital após consumir drogas no apartamento desse mesmo médico. O caso voltou para a midia hoje pois o médico foi finalmente acusado da morte delas duas.

Participo de uma comunidade na internet sobre a Australia composta por brasileiros e esse assunto gerou um acalorado debate: algumas pessoas acharam um absurdo a imprensa australiana manchar a reputação da menina dessa forma, afinal,  ela não era prostituta de jeito nenhum e que ela deve ter bebido algo em algum bar (o famoso Boa noite Cinderela) e, drogada por outra pessoa, não tinha consciência sobre o que estava fazendo. Outra coisa que muitos falaram foi que, como nós brasileiras temos uma péssima reputação mundo afora, fica muito mais "fácil" a imprensa australiana falar que a menina era prostituta – afinal, quem não vai acreditar? Alguns brasileiros querem limpar a imagem da Suellen e já até criaram uma página na internet para que as pessoas coloquem seu depoimento sobre a menina, forçando a imprensa a fazer uma “limpeza” na imagem que foi inicialmente propagada.

Falando tudo isso eu me sinto mexendo numa casa de marimbondos. Sinceramente, não conheço a menina, não conheço a família dela, não conheço nada e nem ninguém, só o que li nos jornais, no Orkut, em sites etc. Não posso dizer que ela era prostituta, que ela não era, quem ela era, quem não era, tudo o que eu falar será mera suposição com base nos fatos relatados por outros.

O que eu acho disso tudo é que o caso nos ensina muito. Primeiro, a não acreditar em tudo que se lê. A duvidar, e isso inclui duvidar também da bloguista aqui que vos fala - não por que eu sou uma mentirosa-manipuladora, mas por que, como falei na introdução desse post aqui, cada um inventa a novela e os atores na sua própria cabeça, e isso inclui jornalistas, escritores, bloguistas, engenheiros, garçons, mães de família – todo mundo. Mas é claro, jornalista deve apurar fatos, e é isso que deveria diferenciá-lo das pessoas que não tem o dever de escrever coisas com fatos comprovados como eles tem. É pra isso que jornalista estuda, faz faculdade – para aprender a não dar a sua opinião e sim, se limitar a esses fatos (a não ser que seja um colunista-jornalista, mas aí é outra história).

Segundo, que a mídia faz o que quiser com a nossa limitada cabeça – manipula, distorce, cria, mente, inventa. E que, por outro lado, nessa época de internet e de constante bombardeio de informação a que estamos sujeitos, ficamos mais perdidos do que cego em tiroteio, sem saber em quem confiar, em quem acreditar.

Por outro lado, não posso dizer categoricamente que a menina não era prostituta. Como é que euzinha, sentada aqui em uma casa de um bairro de Brisbane, sem conhecer a menina, posso saber? A mente humana é capaz de manter os mais profundos segredos. Não estou, de forma alguma, querendo dizer que ela era mas quero dizer apenas que não posso dizer nada com certeza absoluta sem te-la conhecido, sem conhecer a sua historia e apenas embasando a minha opiniao, mais uma vez, nos outros. Eu estaria me colocando no lugar do jornalista que escreveu a história dizendo que ela era prostituta.

Concordo com a causa dessa pagina no sentido de que o veículo que publicou que ela era uma deveria esclarecer que essa não é uma informacao comprovada e que eles nunca deveriam ter falado isso. Um belo mea-culpa, de repente com entrevistas da mae, familia, amigos mostrando o outro lado dela. Mas por questões puramente jornalísticas, e não pela emoção do fato (tipo “ah, ela era brasileira e temos que limpar a imagem dela”).   

 

Olha, no final das contas, nessa história toda só sei que nada sei. Não posso afirmar absolutamente nada, apenas supor (afinal, sou humana), e qualquer que seja a minha suposicao, prefiro não fazer isso aqui. Prefiro manter na minha cabeça. E seria muito bom se os jornalistas fizessem o mesmo - e tivessem feito desde o inicio das reportagens sobre a morte dela. 

Que Deus a tenha.

2 comentários:

Amanda disse...

Olá! Obrigada pela visitinha em meu blog! Gostei do seu tbm com um perfil jornalístico sobre a Austrália. Eu sou do interior de São Paulo e moro em Sydney há mais de 2 anos com meu marido. Eu tinha lido sobre essa menina encontrada no apartamento do médico. E sobre essa questão se ela era ou não prostituta de luxo ninguém sabe, mas eu conheci uma moça que trabalhou em casa de massagem erótica (o que é a mesma coisa que prostituição de luxo) ela relatou tudo pra mim e tem muita brasileira que entra nessa mesmo que por pouco tempo pra ganhar dinheiro. É uma pena o que tem acontecido aqui meio que por baixo do pano. Talvez a morte dessa moça tenha mostrado alguma coisa que as pessoas não estão enxergando. Beijos

Verinha disse...

Pois é Amanda, mas essa é a grande dúvida... será que ela entrou nessa ou não? Vc ouviu alguma coisa por aí em Sydney?

Beijos e obrigada pela visita,
Vera