Border Security é um reality show do canal de TV australiano Channel 7 que mostra o trabalho de “segurança na fronteira” feito pelos agentes de imigração, pela alfândega e do serviço de inspeção de produtos que chegam à Austrália. Eu adoro, tem muita ação, reações emocionais inesperadas, frieza dos agentes, truques inesperados dos passageiros/turistas/etc desmascarados... é um programa que mostra até que ponto o ser humano pode chegar para conseguir imigrar para a Austrália, ou traficar drogas, ou para trazer algum produto escondido para o país.
Vou citar alguns casos que já vi para você entender melhor o reality show. Ele mostra, por exemplo, quando tem um vietnamita suando em bicas tentando entrar na Austrália que parece meio suspeito de estar trazendo drogas – o programa mostra ele sendo parado, revistado, interrogado até acharem ou não drogas nele. O programa também mostra um casal vindo da China cheio de ervas medicinais que preenche o formulário da alfândega dizendo que não estão trazendo nada “proibido” mas depois acabam sendo descobertos e fingem que “não entenderam” o que estava escrito. Ou um ex-presidiário da Nova Zelândia com um vasto histórico criminal tenta entrar na Austrália, acaba sendo parado e interrogado, e tem que dar justificativas para a sua vinda a Austrália e, no final, qual é a decisão da imigração: se deixa ou não ele entrar no país. Ou mostra uma mulher vindo da Malásia que diz ser turista mas que não tem um pingo de dinheiro e que, no final, descobre-se que ela obviamente vai procurar emprego ilegal na Austrália por isso ela acaba sendo mandada de volta pra Malásia. Ou mostra um pacote vindo do Brasil que passa pelo raio-x (90% da correspondência internacional que vem para a Austrália passa por raio-x), lá eles verificam algum produto suspeito dentro do pacote, os agentes australianos o abrem e descobrem que dentro do inocente livro infantil tem 250 gramas de cocaína escondida (esse exemplo é real e apareceu no programa da semana passada).
A Austrália é um dos países com a entrada mais restrita do mundo: praticamente todas as nacionalidades precisam obter visto antes de entrar no país (para alguns países o processo é mais fácil - apenas pela internet -, para outros, como o Brasil, é mais difícil onde até para obter visto de turista é necessário mostrar, por exemplo, demonstrar prova financeira de que se tem condições de bancar a viagem). Além disso, por ser um continente-ilha com uma fauna e flora únicos no mundo (vide cangurus e coalas que só existem aqui), o país tem a quarentena, que é a proibição da entrada de qualquer tipo de comida, planta ou produtos animais – isto por que esses produtos podem trazer diversas doenças e pestes para o país (aqui está a lista do que se pode ou não se trazer para cá). Além é claro, de obviamente não se pode entrar com qualquer tipo de droga, o que muita gente tenta fazer mas acaba sendo pega.
A maior parte do programa é filmado nos aeroportos de Sydney e Melbourne mas às vezes ele também mostra casos nos aeroportos de Brisbane, Perth, nos portos, nos correios, batidas nos lugares suspeitos de estarem empregando estrangeiros sem visto de trabalho, ou o trabalho da alfândega nos barcos ancorados no norte da Austrália (perto da Indonésia e Papua Nova Guiné).
Não é sempre que acontece alguma coisa: às vezes, nada acontece e a pessoa é liberada sem nenhum problema. Às vezes não. Os casos que mais me impressionam são os das pessoas que tentam traficar drogas. Os agentes da imigração suspeitam, por exemplo, de pessoas do sudeste asiático que saíram e voltaram da Australia umas quatro vezes nos últimos seis meses e que acabam permanecendo apenas três dias na Austrália sem nenhuma explicação aparente. Em 90% dos casos eles estão carregando alguma droga dentro deles. Os agentes dos aeroportos já estão carecas de saber disso, por isso eles detectam rapidamente quem pode ser um traficante. Nos correios existem muitos casos de latas lacradas com drogas dentro (geralmente eles pesam as latas e o peso é bem diferente do que está escrito no rótulo) ou, como citei no exemplo do livro infantil que veio do Brasil, os traficantes tentam esconder as drogas entre a capa e a primeira página (que são coladas mas que tem a droga escondida por dentro), em tecidos de tapetes ou roupas, em maquiagem, enfim, vale tudo.
É claro que existem controvérsias sobre o programa. Em seu livro sobre a indústria de Relações Públicas na Austrália o escritor australiano Bob Burton reclamou que na edição do programa é bem provável que eles retirem os trechos que mostram os erros do governo e, com isso, parece que o governo está sendo justo e efetivo na proteção das fronteiras. Pra mim isso é óbvio: é claro que acontece preconceito contra asiáticos e indianos, grosseria, ameaças e etc - ninguém é bonzinho, muito menos australianos que trabalham “protegendo fronteiras”.
Fora isso eu acho um tremendo exagero essa política de quarentena – não se pode trazer nenhum tipo de comida pra Austrália, nenhuma mesmo, nada. Outro dia em um programa um músico cubano trouxe pra Austrália um pandeiro que tinha sementes secas e envernizadas penduradas em volta, estilo aqueles colares e pulseiras que os índios fazem e que se vende em qualquer canto do Brasil. O tal do pandeiro não pôde entrar e ficou retido. O cara quase chorou pedindo pelo amor de Deus, que era o intrumento de trabalho dele, que era exagero etc e tal, mas não teve jeito, ficou sem.
Apesar de ser um reality show, duvido que ele retrate a realidade nua e crua. E também acho difícil ter um programa do gênero no no Brasil, que tem uma realidade (e, principalmente, uma Polícia Federal) bem diferente da australiana. Se é politicamente correto ou não eu não sei - mesmo assim, o programa continua sendo bem interessante.
Neste link do You Tube você pode ver alguns trechos.
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3 comentários:
Verinha querida,
Vi uns videos desse programa no youtube no link que você mandou.
Só duvido que sejam sempre tão amáveis assim sem as cameras.
Aqui na Argentina passa um chamado Frontera: Zona de Peligro que é filmado na fronteira entre Mexico e Estados Unidos. Têm cada coisa, mexicano escondido dentro de banco de carro, drogas em lugares inimagináveis... bom programa.
beijão
Arthur
Arthur, que bom te “ver” por aqui
Eu já vi um documentário que falava sobre a proteção da fronteira americana, mas não era uma série.
Fiquei impressionada, existem cidades na fronteira do México que vivem abertamente para a travessia ilegal. Por exemplo, cidadezinhas que vendem cantis d'agua, botas especiais, protetor solar potente, remédios, tudo na cara que é para usar no deserto entre o México e os EUA. Existem também companhias que trabalham só com isso, com vans que vão até a boca do deserto, sempre carregadas de mexicanos prontos para se jogarem ao Deus dará na busca por uma vida melhor nos EUA. E como isso tudo acontece no México, obviamente os EUA não podem fazer nada (no lado do México, pq no lado americano eles fazem de tudo e mais um pouco - sempre regado a tecnologia de ponta, como o avião que tem uma câmera embaixo dele e que tem visão da noite/do escuro - esqueci o nome disso -, e que não precisa de piloto. Ele passa pelo deserto a noite toda e é o terror dos imigrantes ilegais).
Vi também um mexicano que mora há 20 anos nos EUA que semanalmente, há 18 anos, coloca garrafas d'agua no meio do deserto para ajudar os mexicanos que vão atravessar. E por aí vai.
Acho triste tudo isso... Eu sempre imagino: se todas as fronteiras fossem abertas, como o mundo seria? Por outro lado, daria uma bagunça danada... mas por que algumas pessoas tem menos direitos que outras? Por que tratar o imigrante ilegal como se fosse um assassino, um bandido da pior espécie se ele estava apenas querendo viver uma vida melhor, prover a sua família? (claro, aí não estou falando dos traficantes e etc, apenas daqueles que foram pros EUA pra tentar uma “vida melhor”).
Outra coisa, atravessar a fronteira é só o começo, uma pequena batalha se comparado a guerra que eles vão ter que enfrentar ao chegar nos Estados Unidos. Eu sou uma imigrante aqui na Austrália e vejo que, mesmo com mestrado aqui e falando a lingua, estou sim em desvantagem a outro australiano com a mesma educação que a minha. Imagina os mexicanos, com pouca educação, sem falar inglês, longed a família, da sua cultura, como eles serão explorados, mal-tratados, etc? Isso tudo depois de passar por esse deserto horroroso.
Eu fiquei muito chocada com esse documentário, me marcou bastante.
O Border Security já tem um pouco mais de tudo, e cada figura viu.
Beijão
Verinha
Esse tipo de reality show também mascara a realidade, mas é bem interessante.
Gostaria que as fronteiras do Brasil fossem também melhor fiscalizadas.
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