sábado, 30 de janeiro de 2010

Visita a uma mina de carvao australiana

(sorry, hoje o teclado estah sem acentuacao)

UAAAU!!! WOW! Inacreditavel! Meu Deus! Eh assim?!!! Caramba! (queixo caido)

Essa sou eu entrando em uma mina de carvao situada em Hunter Valley, no estado australiano de New South Wales. Fui a trabalho, e tive a oportunidade de visitar essa mina abaixo da superficie (chamada de Underground) e outra na superficie (aqui chama-se Open Cut).

(Momento parenteses: antes de entrar no assunto vou contar sobre o que acho sobre percepcoes iniciais e como elas impactam na realidade que constatamos - nao por acaso perguntei sobre as percepcoes sobre o Brasil nas entrevistas com os australianos que fiz pro blog. Um amigo uma vez me falou uma coisa que me marcou bastante e que faz todo o sentido: que a vida nao eh a vida por si soh, ou seja, nao existe essa falada “realidade nua e crua” e sim, existe a novela – ou historia, mas acho que o termo novela ilustra melhor - que fazemos na nossa cabeca. O que eu estou tentando dizer eh que nesse exato segundo em que voce estah lendo esse texto existem 7 bilhoes de novelas rolando e sem intervalo comercial. Cada pessoa tem o seu proprio roteiro: ou seja, nos fazemos o cenario do modo que acharmos mais comodo para a nossa limitada mente e colocamos atores (nossos amigos, familia, conhecidos etc) nos papeis que nos convem. Muito disso acontece tambem por falta de conhecimento e experiencia, por preconceito, pela religiao, por valores de vida – por varias razoes. Mas no final, ao conhecermos mais uma coisa ou alguem, constatamos que as vezes colocamos essa coisa ou essa pessoa no papel errado, ou confundimos o cenario... enfim.

Foi mal pela filosofia barata mas falo isso pra poder introduzir o assunto mina aqui pra voce. Pra mim a experiencia foi tao grandiosa, mas tao, que eu tenho que comecar devagar e tateando o tema pra voces entenderem junto comigo o que eh que eu estou realmente querendo dizer aqui. E adianto que nao vai ser facil.)

Voltando ao comeco do post: mesmo apos ler bastante sobre o assunto, a minha ideia sobre uma mina de carvao underground era a de um buraco na terra com um tunel vertical mais ou menos pequeno e profundo, no maximo estourando com uma centena de metros, que chegaria a um outro tunel dessa vez na horizontal, e que nesse tunel na horizontal teria um bando de homens e maquinas trabalhando para escavar o tal carvao que estaria nas paredes desse tal tunel.

Conseguiu captar a imagem na sua cabeca?
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Entao esquece.

Uma mina de carvao underground – pelo menos a que fui – eh muito, mas muito mais do que isso. Vou comecar do comeco: quando voce chega lah de carro, obviamente que ainda na superficie, primeiro o que encontra eh a base, que sao os escritorios, a administracao, a sala de controle, banheiros, equipamentos, etc. Em seguida, como eu iria descer para a mina, tive que fazer uma inducao de uma hora na sala de treinamento que me faria entender todo o esquema de seguranca, o que fazer quando estivesse lah embaixo, o que nao fazer, como lidar em casos de alguma emergencia, o telefone da emergencia, como usar a mascara de oxigenio (obrigatoria para quem desce mas que, pelo menos na mina que fui, nunca ninguem precisou usa-la) entre outras coisas. Vale destacar que a Australia, com uma politica rigorosa e exemplar de seguranca e protecao dos mineiros junto a uma moderna tecnologia no maquinario das minas, eh um dos paises do mundo com o menor indice de fatalidades entre mineiros do mundo, e a China, o maior.

Pois bem, apos colocar todo o equipamento (capacete com luz, macacao, bota, uma caixa com a mascara e oxigenio etc), entramos no carro especial (que parece um tanque de guerra soh que mais aberto) e rumamos em direcao ao local de escavacao de carvao da mina. Saimos da base e comecamos a descer uma ladeira e, de repente, entramos na porta do tunel com 3 metros de altura por 5 de largura. O carro vai andando e gradualmente o ambiente vai escurecendo. A sensacao de claustrofobia eh enorme e jah sentimos um ar diferente, denso, cheio de poh. Olho para tras e vejo a luz do comeco do tunel diminuindo, diminuindo, ate que acaba e eh breu total – a frente do caminho eh apenas iluminada pelo farol do carro-tanque-aberto. Parece que estamos em uma mega-caverna com uma estradinha fina e sinalizada. Passam-se 5 minutos, 10, 15... 20. Vinte minutos! Os 20 minutos mais longos da minha vida, parecia que estavamos em direcao ao centro da Terra. Calma nao acabou. Mais 5, mais 10. Sim, o carro andou 30 minutos debaixo da terra. Repito: meia hora dirigindo embaixo da terra, e eu nao estava dentro de um vagao de metro iluminado com sinais eletronicos, McDonalds e escadas rolantes, eu estava em um tunel inospito e escuro e claustrofobico, com uma rede feita de ferro segurando as pedras do teto e outros equipamentos sofisticados e carissimos feitos para segurar a estrutura do teto. Olha, essa explicacao sobre como eles conseguem segurar o teto eu vou ficar devendo, por que por mais que eu tente explicar, nao vou conseguir jah que o meu proprio cerebro nao consegue absorver e entender como eh que eles conseguem fazer isso.

Nem preciso falar que, em todo esse trajeto de meia hora, o meu coracao estava aceleradissimo numa mistura de excitacao, incredulidade, surpresa, admiracao e medo. Como o ser humano consegue fazer isso? Por que? Uma coisa eu sei: tudo isso foi feito pra conseguir carvao, claro. Mas como foi isso? Como a humanidade chegou a conclusao que deveriam cavar longos tuneis debaixo da terra, colocar a vida de milhares de pessoas em risco para achar uma pedra preta que serviria como combustivel para gerar eletricidade e assim, o progresso?

Ao mesmo tempo, nesses 30 minutos eu pensava sobre a pequenez da minha vida, das coisas que faco, do meu dia a dia – um grao de areia eh pouco se comparado a um negocio desses. Pensei no trabalho desses homens, trabalhando 12 horas por dia em um ambiente tao duro, tao dificil. Da coragem deles, da forca. Dos efeitos que um trabalho desses pode ter na vida de uma pessoa (nao vou esquecer dessas tres horas que passei embaixo da terra nunca na minha vida). Da grandiosidade do ser humano, da capacidade que nos temos de atingir coisas, de ir alem, de imaginar, pensar, planejar e fazer.

Enquanto todas essas questoes rondavam a minha cabeca, finalmente o carro parou e chegamos ao ponto de escavacao do carvao em si – lembre-se, todo esse trajeto era “apenas” o caminho para se chegar lah, no “ouro negro”. A mina que fui era a do tipo longwall, ou seja, o carvao eh escavado atraves de uma imensa roda com dentes em seu entorno, e a medida que essa roda gira, ela vai retirando o que tem na parede – o carvao. Mas admito a voces que prefiro nao dar explicacos tecnicas jah que eu nao trabalho em minas, nao sou engenheira de minas e nao me sinto a vontade para falar sobre uma coisa tao especifica e complicada como o modus operandi de uma mina como essa. Se voce quiser ler mais sobre o assunto, clica aqui (em ingles).

Tambem tive a oportunidade de visitar uma mina Open Cut, e tambem eh bem impressionante, mas pra mim a sensacao de ver (e sentir, e cheirar) uma mina underground eh... eh.... bem, nao sei se posso dizer indescritivel jah que eu acabei de tentar descreve-la, mas mesmo assim, acho que indescritivel ainda eh uma boa palavra pois, mesmo que eu tente, qualquer descricao ainda nao serah suficiente.

Acho que todos estao cansados de saber que a Australia eh um dos paises do mundo com a maior quantidade de metais, pedras e volume de mineracao. Carvao, cobre, prata, minerio de ferro, zinco, diamante, bauxita, uranio, petroleo... you name it, tem aqui. Mineracao eh uma parte importantissima da economia da Australia e, claro, das comunidades ao entorno de cada mina (onde os moradores trabalham, vivem e respiram a mina). A Australia eh, disparado, o maior exportador de carvao do mundo (afinal, com uma populacao super pequena de 20 milhoes de habitantes e carvao abundante, o negocio eh vender) e o quarto maior produtor, atras da China, Estados Unidos e India. Se voce quiser ler mais sobre o assunto, procura aqui (em ingles), pode ser um bom comeco.

Em grande parte o pais eh deserto e infertil para plantacoes e para a vida humana e, ironicamente, muito fertil para essas pedras e substancias tao preciosas justamente para a vida humana. Afinal, quem eh que faz os nossos ar-condicionados, televisoes, computadores, iPods, iPhones, luzes, carros, avioes, telefones, industrias, empresas e muito mais, poderem ser criados e funcionarem?

Muita gente reclama dos impactos ambientais da mineracao (do carvao principalmente), mas essas pessoas nao moram no meio do mato sem luz e com uma fogueira na frente, cacando e plantando a sua propria comida. Eh claro que seria maravilhoso para o mundo se tivessemos uma energia “limpa” e barata mas a energia solar e eolica ainda, nem de longe, consegue suprir a demanda da humanidade. Infelizmente isso ainda nao acontece nao soh pela ma-vontade dos governantes e poderosos (tambem), mas pelo valor de implementacao dessas energias, ainda carissimas e com a tecnologia em estado embrionario. Nao acho que nos, dessa geracao, conseguiremos ver uma mudanca da fonte de energia. Enquanto isso, teremos que conviver com as minas que fazem a nossa vida ser da forma que eh hoje - a nao ser que a gente mude radicalmente o nosso estilo de vida e volte alguns seculos atras. Antes de perguntar se estamos preparados, vale a pergunta: serah que eh isso que queremos?

(nao vou postar nenhuma foto pois prefiro prevenir - nao sei qual eh a politica de comunicacao da empresa em que trabalho para exposicao de fotos em blog pessoais - mas aqui estao os links para fotos de algumas minas underground e open cut)


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Bem, o post tah muito longo, vou ficando por aqui hoje. Essa semana tem a continuacao da serie sobre "Jeitinho Australiano": vou falar sobre a forma dos australianos falarem (ingles australiano: sotaque e girias). Ate lah!

5 comentários:

Arthur Moura disse...

Verinha,
Aqui é o Arthur. Tudo bem? seu blog é muito, muito bom. Tenho acompanhado sempre!!! Que experiência incrível essa da mina de carvão. Uah! de arrepiar...
Um beijo grande
Arthur

Unknown disse...

Verinha, o Arthur aí de cima falou certo, e sua descrição nos deixa mesmo arrepiados...Um dos trabalhos mais insalubres e perigosos é o de mineração, aqui no Brasil, e tem muito a ver com o mergulho profundo, também à busca de combustível (petróleo e gás) no fundo do mar...Esses homens são heróis, e realmente nenhuma norma de proteção é cara ou dispendiosa demais para a empresa que os emprega. Bom que aí sejam tão rigorosos. Por aqui nós (Auditores Fiscais do Trabalho) estamos sempre a tentar aumentar a proteção deles. Mas isso tudo foi para dizer que estou apaixonada pelo seu blog, menina...Como vc escreve bem! Beijos

Verinha disse...

Olá Arthur, quanto tempo! Que saudade... pois é, foi uma experiência e tanto. Como a minha mãe falou aí em cima, os caras são heróis - não por acaso ganham uma bela grana pra isso. Legal que vc tá acompanhando o blog. E aí, lendo tudo isso você nao se anima a vir me visitar? ;-)

Oi mae, esses que trabalham no fundo do mar devem se expor a um risco ainda maior não? Mas aí eu não visitaria nem amarrada. Quem dita as normas de seguranca dessas profissoes no Brasil é o Ministério do Trabalho? O que eu sei é que aqui na Austrália a União dos Mineiros (ou associacao, esqueci o nome) faz uma pressão fortíssima, isso deve fazer diferença nao eh?

Beijao

Unknown disse...

Oi Verinha,

Eu tive quando jovem ainda esta experiencia de descer em uma mina de carvão no interior do Rio Grande do Sul. Com certeza bem diferente daquilo que você descreveu. Fomos num elevador a n metros de profundidade e depois caminhando, mas sem nada de segurança. Nunca irei me esquecer. Quando sai de lá e vi o campo verde em cima não conseguia imaginar que havia uma outra cidade em baixo, sem cores, sem ventos e sem vida aparente. Muito chocante. Excelente post!
Beijos,
Sonia

ANA RODRIGUES disse...

Gírias !

Isso muito me interessa :)