quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Blog parado!

Vou mudar o conceito disso.

Sei lah, nao sou muito chegada a prazeres que viram obrigacoes, como os tais blogs. Acho que isso daqui vai ser bom pra falar um pouco do que estah acontecendo quando eu tiver afim, sem cronologia ou pressao... vou contando... por isso o titulo, Verinha Conta. E vou contando...

CHILE - San Pedro de Atacama - SABADO, 25/07/2009

Neste dia acordamos em um horario mais normal: 6:30 da manha. Marcamos o tour com a Chilean Adventures pela primeira vez, e foi a melhor empresa disparado. A outra, nossa, pelos guias que descrevi antes dah pra perceber, nao? O guia era otimo, a van tinha calefacao, e desta vez, soh tinha chilenos e soh eu e o Aaron de "outsiders".

A primeira parada foi o Salar de Atacama, um lugar magico e plano, encrustado no meio de tres cordilheiras. Com uma producao imensa de sal, o local tem uma reserva de Flamingos, e foi pra lah que fomos. Mais uma vez, muito frio: quando chegamos estava 10 graus negativos e a agua salgada estava congelada. Pra efeito de comparacao, uma agua doce congela aos 0 graus. Os flamingos estavam concentrados em um soh lugar. Tive pena deles... geralmente eles ficam
espalhados pelo salar, mas naquele frio, eles provavelmente estavam tentando se esquentar ali, juntinhos, agarradinhos. Tomamos cafe-da-manha e fomos para o

Lago Minique, uma das paisagens mais lindas que vimos ate entao. O lago situa-se apos uma montanha, a 4400 metros, bem alto, e estava com muita neve em volta. O proprio guia nos disse que nunca tinha visto o lago com tanta neve.

CHILE - San Pedro de Atacama - SEXTA-FEIRA, 24/07/2009

Acordamos as 3:30 da manha - ou melhor, acordamos nao, ele acordou, por que eu acordei as 3:50 rsrs. A van nos buscaria na Martita as 4 da manha, mas putzzzz, tava - 5 graus!!! Sim, 5 graus negativos. Lembra quando a gente estava na escola, quando tinha aula as 7 da matina, inverno?? PIOR! MUITO PIOR! Desculpe o palavrao, mas tava um frio do CARALH****!!!!!!!!!! Vesti todas as roupas que tinha, no total, 5 casacos, um em cima do outro. Mas obvio que eu ainda nao estava preparada
para o que estava por vir. A van nao tinha calefacao! Vou tentar conter a emocao e me ater aos fatos, mas lah fomos nos para os tais Geysers del Tatio.

A estrada de cerca de 1 hora e meia que nos levaria ateh lah era horrorosa, de terra com aquelas caveiras de burro, a van (sem calefacao, lembrando mais uma vez), ia quicando, eu que nem uma mumia de tao cansada (tambem lembrando que acordamos as 3:30 da manha), mas obvio que nao conseguia dormir com aquela situacao toda, os dedos do meu peh congelando, eu achava que eles estavam ficando azuis e necrosados de tanta dor que sentia. Frio pode doer sim, e muito! Fomos subindo, subindo... San Pedro fica a 3300 metros acima do mar, e os geysers, a 4300, quase na frnteira com a Bolivia.

Depois de uma viagem tao maravilhosa, finalmente chegamos na reserva onde ficam os tais geysers, e demos uma paradinha para ir ao banheiro. Nesta hora o guia nos avisou que a temperatura do local, de acordo com o termometro da recepcao, indicava - 17 graus. Sim, sim, isto nao eh um tracinho nao, eh um sinal de negativo mesmo! 17 graus NEGATIVOS! Eu fui a unica que nao saih da van, eu acho que minhas pernas nao iriam corresponder aos comandos do meu cerebro naquele momento. Alias, meu cerebro soh me dizia "QUE QUE EU VIM FAZER NESTA MEEERDAAAAAAAAAAAAAA???!!!". Calma Verinha, tantos turistas vem a estes geysers todos os dias, ontem estava - 20 graus, voce deu sorte, estah ateh quentinho, soh - 17, ora bolas. Mas finalmente, nesta hora perguntei pro guia por que ele nao ligava a calefacao, e ele me disse "ah, estah muito cedo, se eu ligar o aquecedor pode me dar sono, o frio me acorda". Benditos guias chilenos, viu.

A minha visao parecia uma visao do inferno. As pessoas do lado de fora todas vestidas, da cabeca aos pes, tentando se esquentar, andando rapido, ui, como elas tem coragem, pensava eu. Quando todo mundo entra na van, andamos mais um pouco e finalmente, os Geysers. Nesta hora comecou a amanhecer, e tenho que admitir, a paisagem do vapor vindo da terra, a agua fervente borbulhando no solo, era inesquecivel! Mas mais inesquecivel ainda eram os meus dedos dos pes, que teimavam em passar a mensagem para o meu cerebro que eles estavam prestes a necrosar. Lembra aquela agua fervente, escaldante, que saia da terra a 90 graus? Assim que ela chegava na superficie, CONGELAVA. Juro. Serio, lindo tudo aquilo, mas nao dava, tava frio demais e eu ainda nao sou um animalzinho que faz "queeeeee" e que as pessoas colocam em cima da galedeira. Tirei umas fotos com o sorriso mais amarelo e falso, ou melhor, com o maximo que a minha boca conseguia abrir pros lados, e fui pra van. Nao adiantou muito, pois nessa hora percebi que a historinha do guia de nao ligar a calefacao pra acordar era conversa pra boi dormir - ela tava quebrada, na verdade! O guia serviu o cafe-da-manha ali fora, no frescor da manha, e nessa hora tive que sair da van pra ter meu sanduiche, o mais gelado que jah comi na vida. Tomei uns tres cafes, cafes esses que tiveram os mesmos efeitos no meu corpo que o sol teve no ambiente, esquentando tudo, do preto e branco para as cores, me trazendo do fundo do oceano para a superficie da vida. Com certeza o melhor cafe ruim que jah tomei.


Saimos do local dos geysers e, 30 metros a frente, fomos a piscina de agua quente ao lado alimentada justamente por aquela agua quentinha, claro que nao a 90 graus, mas a uns 30, 35. Quando paramos e o guia falou que, quem quiser, pode cair, eu fiz um ruido de "HA!", crente que nenhum ser humano poderia cair numa piscina a - 9 graus do lado de fora. Duas vezes HA!, por que assim que paramos e pude ver a piscina, estava cheio de gente dentro, de biquini, sunga, a la praia de Ipanema. Serio! Como assim, eles sao feitos de carne e osso assim como eu? Sao humanos?? Nao, acho que eles sao seres mutantes infiltrados entre nos, esa eh a unica explicacao plausivel. Perguntei pra um chileno que caiu qual era a sensacao, e ele me disse que maravilhosa, o problema foi sair da piscina.

Saimos da reserva dos geysers em direcao a Machuca, um povoado a 4300 metros de altura quase na fronteira com a Bolivia. Sim, pessoas, como eu e voce, vivem ali, naquele ambiente seco, alto e distante do mundo. No caminho vimos vicunhas e llamas, os animais locais (sim, pq tem que ser animal muito especifico pra viver aqui). O guia estava explicando que, ao lado de um Llama alfa macho ha sempre 7 llamas femeas, este eh o estilo de "acasalamento" da especie. Mais a frente, vimos um llama sozinho, e o guia perguntou: voces sabem por que um llama macho fica sozinho? Lah de tras vem uma vozinha "eres gay" rsrs. Nao, na verdade eh que eles ainda sao Llamas machos jovens que ainda nao conquistaram suas femeas.

Apos mais paisagens deserticas, chegamos em Machuca. Casinhas com sistemas de captacao de energia solar no telhado espalhadas em apenas uma ruazinha poeirenta, uma igrejinha toda enfeitada pois no dia seguinte eles teriam festejos em comemoracao ao dia de Santiago, habitantes mascando folha de coca e bebendo cha esquentado em uma fogueira, um churrasqueiro grelhando carne de llama e vendendo para os turistas (o Aaron comeu e disse que parece carne de vaca, mas um pouco mais "chewy", chicletenta).

Depois rumamos de volta a San Pedro pela mesmo estrada quicante, mas desta vez, bem mais quente (uns 4, 5 graus positivos). Fui tirando as camadas de roupa como se fosse uma cebola perdendo as camadas, alias, isso era rotina no Atacama, jah que a noite, fazem graus negativos e de dia, pode chegar a 25 graus.

Chegamos em San Pedro por volta de 12:00 e fomos almocar, em seguida fomos descansar e ler na praca principal. Quando o sol bate no nosso corpo, parece que ferve e queima, por isso protetor solar o tempo todo eh item mais que obrigatorio. Devorei um pouco mais do meu livro: Paula, de Isabel Allende, uma escritora chilena maravilhosa (momento parenteses: leiam esse livro, prende a respiracao. Eh a sua auto-biografia permeada da historia da doenca de sua filha, que estah em coma... ela escreve esse livro nos corredores do hospital, e ele conta, alem de sua propria vida, a historia do Chile, o golpe militar, os anos da ditadura. Imperdivel.)

O resto do dia foi meio paradao, estavamos mortos, fomos a internet, comemos mais um pouquinho, marcamos o tour do dia seguinte e voltamos pro albergue.

Next day: lagos altiplanos, Salar de Atacama e Toconao.

CHILE - San Pedro de Atacama - QUINTA-FEIRA, 23/07/2009

Vista do aeroporto de Calama, a 80km de San Pedro de Atacama.

Depois de muito pensar, decidi escrever esse blog em portugues mesmo. Essa eh a minha lingua, eh assim que me sinto mais segura e a vontade para escrever. Alem disso, quero escrever para quem estah longe de mim no momento - e estas pessoas sao brasileiras, jah que estou morando fora do pais. Portanto, o blog eh para, alem de filosofar um pouco sobre coisas variadas deste mundo, passar noticias sobre mim para minha familia e amigos.


IMPORTANTE: ESTE LAPTOP NAO TEM NENHUM ACENTO! Portanto, acostumem-se a ler "eh", "nao", "coracao", etc. Como o cerebro humano eh extremamente desenvolvido (e os da minha famlia e amigos, ainda mais rsrs), eh facil se acostumar com esse detalhezinho, neh nao?

Bem, mas chega de ladainha, vamos falar um pouco sobre a nossa viagem para a regiao de Atacama, no norte do Chile.

Acordamos as 3:30 da manha, jah que a partida do nosso voo de Santiago para Calama estava previsto para as 5:10 am. Chegamos em Calama, cidadezinha a uma hora de San Pedro de Atacama, as 7:20 am e, adivinha?! Era o exato momento do recorde de temperatura negativa da cidade nos ultimos 10 anos - 9 graus NEGATIVOS! JU-RO, nao eh exagero, e taih a materia de jornal pra comprovar.

Mas o choque aconteceu muito antes do aviao pousar, jah que pela janelinha do aviao jah dah pra ficar impressionado com o visual. Calama eh uma cidade no meio do deserto, sem nada em volta. Quando digo nada, eh NA-DA mesmo, necas de pitibiriba! Da janela conseguimos ver areia e montanhas, um visual lunar, e de repente, tchum!, surge uma cidade! Por sih soh a propria chegada jah eh uma visao impressionante, que soh nos prepara para o que estah por vir.

Alias, pros interessados, Calama soh existe por causa da mina de cobre que fica perto dali, e a maioria de sua populacao eh de pessoas que trabalham na mina - fora os cachorros abandonados (ou perros em espanhol), que existem aos milhares, espalhados e abandonados. Mas a historia dos cachorros eh um capitulo a parte que vou contar depois pra voces, tah...

Mas voltando: saimos do aviao e, ao descer a escadinha (sim, escadinha, a moda antiga mesmo), jah sentimos aquele frio congelante do vento. Corremos para o aeroporto, pegamos as malas e pegamos um shuttle (van) em direcao a San Pedro de Atacama, nosso destino final. Apesar de muitos cansados pelo horario que acordamos, e da ressaca de vinho chileno, ficamos vidrados em cada detalhe da paisagem: montanhas, areia - muita areia -, vulcoes, sombras... jah viajei para
varios lugares desse mundo, mas nunca tinha visto uma paisagem tao vasta, desertica, ampla. Apos uma hora de "ohhh" e "uaauuu", vemos a placa para San Pedro de Atacama, um vilarejo de menos de 2000 habitantes cravado no meio do deserto, onde a sobrevivencia se dah na maior parte pelo mercado de turismo.

Chegamos sem pousada reservada, soh com mochilao nas costas e portunhol na boca. O motorista da van nos deixou na rua mais movimentada da cidadezinha, e de lah comecamos a andar, sem lenco e sem documento. Vale frisar que parte "caminhando contra o vento", alias, foi a mais dificil, por que esse vento vem carregado de areia, fora que os olhos ardem e a boca fica seca o tempo todo - afinal, estamos falando do deserto mais seco do mundo! Haja agua. Entrei em uma pousada que me parecia legalzinha, mas o preco era legalzao: 55.000 pesos (cerca de 206 reais). Putz, nao dah, somos budget travelers (repara no ingles pra disfarcar o "somos pobres" rsrs). Mi amigo, soy brasilena, conoces algun hostel mas barato? Si, si, vah ao hostel da Martita, muy cerca de acah.

Apos nos perdemos em tres ruas, carregando aquele mega-mochilao cada um, encontramos o tal hostel da Martita. Pensa naqueles filmes lah no deserto americano... aquele "No country for old men", que ganhou o oscar... ou aqueles filmes que mostram as cidaezinhas perto de Las Vegas, com um cachorro olhando a situacao soh com rabo-de-olho sem nem se levantar, um velhinho de uns 70 anos todo enrrugado carregando um carrinho cheio de pedras, uma caminhonete caindo
aos pedacos, um terreno baldio ao lado cheio de llamas e vicunhas (os camelos do deserto chileno), e nenhuma placa dizendo recepcao. Pensou? Ele mesmo, o hostel da Martita. Dois minutos depois vem a filha da Martita, nos mostra o quarto, quanto custa?, 20.000 pesos (cerca de 76 reais), no muy caro, sou brasilena, okay muy bien, 18.000 pesos entonces, cerrado. Fechamos com a Martita. Detalhe: o quarto tem banheiro dividido e nao tinha calefacao.

Deixamos nossas malas e fomos pro centrinho de San Pedro, a rua mais movimentada chama-se Calle Caracoles. Comemos um cafe-da-manha em um boteco qualquer e vamos para uma das milhares de agencias de viagens por perto. Decidimos fazer o tour pelo Valle da Lua e Valle da Morte. A esta altura do dia (cerca de 13h00hrs), e a unica coisa que podemos fazer, pois todos os tours saem de manha, e esse eh feito para as pessoas verem o por-do-sol, por isso comeca as 15:00 e acaba as 19:00, ao valor de 5000 pesos cada um + entrada do parque Valle da Lua (2000 pesos) - total, 7000 pesos (cerca de 27 reais).

Chegamos na van, e o motorista, chileno, obviamente soh falava em espanhol, mas soh tinha um casal de chilenos, o resto era de irlandeses que nao entendiam uma palavra do que ele falava, tadinhos. Eu ficava traduzindo tudo que o guia falava pro Aaron, bem baixinho no ouvido dele, mas uma irlandesa sacou que eu tava traduzindo, e pediu "could you please speak louder?". Comecei a falar mais alto pra ela escutar, e obvio, todos os irlandeses ficavam olhando pra mim -
virei a guia do tour, quase... Mas tava dificil, por que o chileno falava muito rapido, e eu nao tava conseguindo acompanhar. Pedi educadamente para o queridissimo guia falar mais devagar, e a resposta? "Ellos estan en Chile no? Entonces tienen que hablar espanol!" Ops... olhei pros irlandeses, e eles esperando a traducao rsrs, weeellll guys, let me say, I'll try to do my best, okay? (tao boazinha eu, nao?).

Mas voltando ao Valle da Lua: um lugar maravilhoso e soh a 6 km de San Pedro, com mais paisagens lunares, e rodeado por duas cordilheiras: Salar e Andes. Em seguida, fomos ao Valle da Morte e parece que nao foi soh ideia nossa: o lugar estava lotado! Subimos uma montanha pela areia e sentamos para ver o por-do-sol. A montanha parecia arquibancada de Fla-Flu em final de campeonato, mas valeu a pena: a medida que o sol ia se pondo, as cores do ceu iam gradativamente
mudando de laranja, para rosa, azul, roxo, laranja de novo, e todas as cores se refletiam nas montanhas do deserto, que tambem mudavam de cores, criando uma palheta nova e natural, aonde a tela era a areia.

Voltamos para San Pedro e agendamos o tour para o dia seguinte: o destino seria os Geysers del Tatio, e a saida, as 4 da manha, por que os geysers soh "funcionam" entre 6 e 8 am, e a ida pra lah demora cerca de 1 hora e meia. Em seguida, fomos para a nossa querida pousada Martita, mortos de cansaco, afinal, nosso despertar foi as 3:30 da manha, lembra? Tava um frrrrio daqueles, cerca de 5 graus, e de madrugada alguns graus negativos - e, lembre-se, sem calefacao. Nao preciso nem dizer que praticamente congelamos, e olha que eu estava vestida com duas meias, calca de flanela, e tres casacos. Mas tudo bem, toda hora eu lembrava, 18 mil pesos, 18 mil pesos... comecei a entender por que era tao barato.

Well, esse foi o primeiro dia!